quinta-feira, 22 de março de 2012

Semy (Capitulo 042)


(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010, 011, 012, 013, 014, 015, 016, 017, 018, 019, 020, 021, 022, 023, 024, 025, 026, 027, 028, 029, 030, 031, 032, 033, 034, 035, 036, 037, 038, 039, 040, 041)

CAPITULO 42
 
- Dave... Dave, estás acordado? - perguntou Jamie bem dentro dos seus braços nus. Levantou a cabeça e encontrou os olhos abertos numa expressão inquietante.
  O quarto iluminava-se cada vez mais e a chuva batia fortemente nas janelas produzindo um som em nada tranquilizante.
- Quem é que consegue dormir com todo este barulho?
- Eu tentei adormecer mas não consegui. Nunca esteve este tempo em Semy, pelo menos desde que cheguei cá.
- Nunca vi nada igual. E não está a agradar-me. Estou a ficar preocupado... Se continuar a chover assim... algumas casas da povoação poderão ficar inundadas... isto sem falar no vento que sopra e que já deve ter destruído alguns telhados.
- Não poderemos fazer algo?
- Talvez.
- Podemos ir ver como estão as coisas e se houver problemas com as casas levamos as pessoas no celeiro principal que é um lugar quente e seguro.
- Tens razão. Não estamos aqui a fazer nada. Vamos levantar-nos.
- Ficaremos mais descansados.
  Dave e Jamie saíram da cama e vestiram-se rapidamente, preparados para enfrentar o tempo furioso do exterior. Quando chegaram à sala principal, Dan Tolos encontrava-se junto da lareira. Aquecia as mãos.
- Não consegui dormir. Este tempo está a preocupar-me. Nunca vi nada assim.
- Também não conseguimos adormecer.
- Vamos até lá fora. - disse Dave levando Jamie pela mão.
- Esperem! Vou convosco. Não consigo ficar aqui sem fazer nada...
- É melhor não.
- Dave, eu estou a ficar preocupado e posso ajudar se houver problemas. Não chamas o teu irmão?
- Não... Não o quero incomodar. Ele saberá onde me encontrar.
  A correr, abandonaram a sala.


- Como está a situação, Lann?
- Não sei ainda, senhor. Aqui no pátio apenas alguns danos menores. Fora dos muros do castelo, não sei de nada. Cheguei há pouco tempo. Enviei homens para ver o que se passa pela cidade. Suspeito que haja problemas. Este vento e principalmente a chuva...
- De certeza que já fizeram estragos. - disse Dan perante o olhar reprovador de Lann. Era notório no rosto de Lann a insatisfação com a presença daquele homem em Semy.
- É por causa dela que estou preocupado. Vem.
  O vento soprava fortemente e a chuva caía sem cessar juntamente com a dança ininterrupta dos raios no céu. Encharcados, saíram do pátio e começaram a percorrer as ruas de Semy.
- Não vejo hipótese de isto passar rapidamente. - afirmou Jamie a olhar para o céu.
- Cuidado, Dave! - avisou Dan Tolos ao mesmo tempo que puxou o alto Elmer por um braço.
  Do telhado, saiu disparado um tronco de madeira que deixou, em seu lugar, um buraco na estrutura da pequena casa. O tronco caiu mesmo no local onde Dave estivera. Teria sido um acidente fatal.
  Ainda a imaginar o que lhe poderia ter acontecido, Dave não sabia o que pensar. O seu maior inimigo acabava de lhe salvar a vida. Porquê? Estaria a ser sincero na amizade que prometia? Poderia ter aproveitado aquele acidente. Mas... Porquê? Porquê? Porquê?
- Obrigado, Dan. - acabou por dizer quase num murmúrio.
- Consegui ver a tempo. Não tens de me agradecer. Vamos ver ali mais abaixo. Estão lá muitas pessoas. Aconteceu algo!!
- Olha ali Dave. Há um incêndio!! - alertou Jamie.
- Lann, corre para o castelo e reúne o maior número de homens. Receio que haja grandes estragos na povoação. Chama também o Jullien. Há trabalho para todos. Depressa!!
  Sempre a correr, desceram uma rua e foram ao encontro do ajuntamento. Furaram caminho e observaram com tristeza o que surgiu aos seus olhos. Uma casa tinha sido destruída por um raio, e todos os seus ocupantes permaneciam subterrados nos destroços. E se não bastasse, o fogo tratava de destruir o que restava do choque de energias. Muitos foram aqueles que tentaram retirar as pedras e madeira, mas o vento, a chuva e o fogo, dificultaram o seu trabalho. Dave, Jamie e Dan juntaram-se ao grupo e também ajudaram no levantar do que sobrara da casa. Agora, restava presenciar o fim do fogo. Já nada poderiam fazer para salvar aquela família. Chegaram tarde demais.
  Pouco depois, mais alguns chegaram ao local, assim como Jullien. Os corpos dos ocupantes daquela pequena casa encontravam-se praticamente incógnitos. Queimaduras e muito sangue espalhavam-se por todos os cadáveres.
  Logo mais abaixo, uma outra casa ameaçava ruir a qualquer momento. Um grupo, dirigiu-se para lá e enquanto apoiavam a estrutura frágil e parcialmente destruída, os seus donos retiraram do interior os poucos haveres de que dispunham. Após a dolorosa despedida, a casa caiu em terra. A noite terrível tinha feito mais uma vítima.
  O vento, os raios e principalmente a chuva não dava tréguas.
  Dan, Dave e Jamie afastaram-se do local e repousaram um pouco debaixo do telhado de uma outra casa. Logo de seguida, Jullien juntou-se-lhes.
- Preciso usar o celeiro para tratar dos feridos.
- Sim, claro Jullien. Leva o Lann contigo e tratem de arranjar um local para recolher os feridos e quem fique sem casa. - disse Dave a olhar para o céu. - Assim que terminar de ver tudo que se passa na cidade irei ter convosco.
- Estou muito assustada com tudo isto. Nunca assisti a uma tempestade tão forte.
- Não te preocupes. - Disse Dan também algo apreensivo.
- Até parece uma revolta dos céus... - acrescentou Jullien.
- Tudo correrá bem. É preciso ter calma. - murmurou Dave abraçado à esposa.
- Eu posso ir ver o que se passa naquela zona - disse Dan apontando para a direita.
- Eu e Jamie seguimos por aquele lado, tu, por ali. Encontramo-nos aqui depois da ronda pela povoação. Lann, vai chamar o meu irmão. Diz-lhe que organize abrigos para os desalojados e que prepare o celeiro para os feridos. Vão!!
  Jullien, Lann e Dan afastaram-se rapidamente sem ligarem à chuva torrencial e ao vendaval.
- Esta noite irá ser inesquecível... Minha querida cidade...
- OH, Dave! Agora é a minha vez de te dizer que tudo correrá bem. Calma.
- Nastro não deve estar melhor.
- Tens razão. Talvez até estejam pior. Não têm o seu senhor para os orientar e... têm falta de escravos.
- Não falemos disso agora. Eu devo é preocupar-me com Semy.
- Sim. Vamos ver quem precisa da nossa ajuda.

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