quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Semy (Capitulo 024)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010, 011, 012, 013, 014, 015, 016, 017, 018, 019, 020, 021, 022, 023)

CAPITULO 24

Faltava apenas um dia para o regresso dos Elmer. A sua longa viagem terminaria em breve. As três amigas pediam que esse momento chegasse rapidamente Pairava no ar uma sensação estranha de medo. O povo ria e conversava, mas por baixo dessa aparente descontracção os ânimos desciam a um nível de preocupação e prece.
Quando tentavam não pensar mais em Dan Tolos, este apareceu fazendo-se acompanhar por uma grande escolta. Os escravos mal o viram na planície alertaram imediatamente os guardas existentes em Semy. Estes, prepararam-se para defender a cidade de seus senhores. Espalhados pelo castelo e muralha, esperaram pela chegada daqueles habitantes de Nastro.
Com um ar triunfante de quem nada temia aliado a uma calma que só transmitia preocupação para quem o olhava, Tolos entrou pela povoação dentro. Observou as gentes com as suas caras assustadas, desconfiadas e sorriu. Com esse mesmo sorriso no canto da boca, subiu até ao pátio do castelo. Parou quando encontrou as mulheres morenas à sua frente. Olhou em volta e desmontou do cavalo. Atrás de si, alguns homens repetiram o seu movimento. Sempre a sorrir e com um brilho especial nos olhos azuis, examinou atentamente o pátio. Virou-se para Jamie e olhando-a de soslaio, declarou:
- Já tinha saudades tuas, amor.
- Nunca lhe dei tal confiança para me tratar assim. O que faz aqui?
- A partir do momento em que nos tocámos... tornámo-nos... amigos...
- Não existe nem nunca existirá qualquer tipo de amizade entre nós. Não quero ser amiga de um demónio.
- Ahhh que autoritária! Humm... gosto! Gosto muito... - Virou-se e olhou-a ainda mais. - Mas eu quero ter uma mulher de fascinantes cabelos negros como amiga...
- Desapareça desta cidade. Não gostamos da sua presença... - ordenou Muriel. - ... como pode ver.
- O que vem aqui fazer?
- És tu quem me manda embora de Semy? - perguntou Dan Tolos com o olhar directo para Jamie. - Consegues? Mesmo??
- Não é só a Jamie. - replicou Muriel.
- Jamie... Então é esse o teu nome, amor?
- O meu nome não interessa. Torno a perguntar o que veio fazer a Semy. Não é bem-vindo à cidade, já deveria saber isso. Só posso supor que seja idiota ou mesmo até muito estúpido.
Dan levantou a cabeça num gesto de crescente irritação pela coragem daquela mulher.
- Cuidado...
- Cuidado com o quê? Não tenho medo de alguém que é temido e odiado por todos nesta cidade e, principalmente, na sua. Eu não conseguiria dormir descansada ao saber que qualquer pessoa poderia levantar um punhal contra mim. Mas... um demónio nunca sente remorsos dos seus actos ou palavras, não é assim?
- Ohh isso não é verdade. Eu preocupo-me muito com os meus súbditos. Muito. Sempre. Estão sempre no meu coração. - E sorriu.
- Desapareça. - Jamie estendeu um braço e um escravo ao compreender o sinal, entregou-lhe uma espada. Logo atrás, Muriel hesitou em pegar na sua. Não tinha a destreza da amiga. Olhou em redor e, mais descansada, viu os vários guardas em posição de atacarem perante qualquer gesto suspeito de Dan Tolos.
- Hummmm... mas o que vejo eu aqui?? Uma escrava a ameaçar-me? Uma escrava??? Como é possível? - Observou melhor os rostos de quem o olhava e percebeu que algo se passava. - Devem ter um grande poder sobre esta gente para estarem a defender a cidade deste modo. É preciso muita coragem para me tratares assim, amor. Não sei se eu permitirei tal coisa, amor...
- Último aviso: saia da cidade imediatamente.
- Mas amor... eu venho em missão de paz. Eu vim apenas fazer uma visita de cortesia. Não é rapazes? - perguntou Dan para os seus guardas que responderam afirmativamente com sorrisos e murmúrios de gozo. - Nunca duas mulheres poderão lutar contra nós... E se esperarem pela ajuda dos homens que Dave deixou, a minha compaixão irá inteira para vocês. Muito mal guardado este castelo... muito mal... muito mal...
- Muito mal, senhor. - repetiu um grande homem de longos cabelos louros que se encontrava logo atrás de Dan Tolos.
- Não brinque connosco. - respondeu Muriel que juntamente com Jamie levantou a espada até ao peito.
- Saia!
- Ora vejam só, rapazes... estou a ser ameaçado por duas mulheres! - exclamou depois de ter avançado uns passos. - Mulheres! Valentes que elas são! Só podem fazer parte de uma grande brincadeira preparada por Dave. Que imaginação fértil tem aquele Elmer! Está a melhorar de dia para dia. Deve ser a tua presença, meu amor, que o inspira.
- Desconhecem o lugar de uma mulher, senhor.
- Tens razão, Be Moon. Mas estas... são especiais... Fascinantes, sem dúvida... Esta aqui então é brava, indomável...
Dan olhou fixamente para Jamie durante um período de tempo em que o silêncio pairou no ar ao mesmo tempo que aproveitou para ajeitar as luvas castanhas. Os presentes no pátio e fora dele trocavam expressões de curiosidade. Perguntavam o que surgiria dali para a frente.
Num gesto rápido, Dan Tolos desviou a espada, agarrou Jamie e beijou-a nos lábios. Com a sua fúria descontrolada, os dentes roçaram com ferocidade. Reagindo ao gesto, ela saiu dos braços do forte homem e, com as costas da mão, limpou um pouco de sangue que apareceu no lábio inferior. Levantou a espada e mirou-o com raiva. O silêncio foi quebrado pelos primeiros sons do embate das duas espadas.
- Nunca pensei vir a lutar com uma mulher. - afirmou Dan no meio do duelo que os dois disputavam. - Desiste!!!
- Nunca! - respondeu fazendo uma investida.
Entretanto, os homens de Nastro começaram a atacar os habitantes da fortaleza. Os que ficaram a cavalo distribuíram-se destruindo tudo que lhes aparecia pela frente. Rapidamente, algumas chamas começaram a surgir. Os gritos dos que fugiam dominavam o ar em conjunto com o choque das espadas. As primeiras setas começaram a surgir dos guardas que protegiam a muralha. Num instante aquele pátio tornou-se com campo de batalha. Todos davam o seu melhor para defender a sua cidade daquela ameaça de Nastro. De ambos os lados caíam no chão pessoas mortas ou feridas. Estavam constantemente a chegar ao pátio pessoas da povoação prontas a lutar do lado das escravas senhoras de Semy. Mas os homens de Dan pareciam nascer de todos os lados.
- Eu não quero lutar contigo. - gritou Dan agitando a sua espada.
- Não fui que a provoquei.
- Pára! - Depois de se defender de um golpe rápido de Jamie, Dan Tolos acrescentou: - Gosto muito do teu estilo. Tenho de dar os parabéns porque...
- Não me elogie com o objectivo de me fazer desistir desta luta. - respondeu Jamie em mais uma investida forte.
- Desistir?! Não! Não és mulher para isso. É por isso que te adoro, mulher. Ahh como te amo mulher!! Quero-te para mim, Jamie. Adoro a tua garra, amor.
- Jamais entrarei em Nastro e muito menos como sua mulher. Você é um demónio que não consegue gostar de mais ninguém! - respondeu Jamie ferindo-o num braço. - Ah! Sem dúvida que tive um óptimo mestre. Só tenho de agradecer assim que ele chegar.
Com o golpe Dan Tolos parou de lutar e levantou o olhar para ela. Os seus olhos azuis turquesa brilharam e mostraram toda a raiva momentânea. Jamie compreendeu que Dan chegara ao limite e, assustada levantou a espada para se defender. Dan encheu-a de golpes que a fizeram perder a espada e quase cair no chão.
Cambaleou e sem meio de se defender, encetou uma corrida em direcção à cabana de Wise Sage. Tolos correu como um doido atrás dela abrindo caminho com a espada a quem o tentava travar. Estava louco e não via mais nada senão a apanhar.
Ofegante, Jamie entrou na cabana e trancou a porta no momento em que a espada do senhor de Nastro trespassava a madeira ficando a parte frontal da arma a poucos centímetros da sua cabeça. Por entre o medo e o cansaço, Jamie respirava sem parar e mal conseguiu chamar pelo feiticeiro.

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