quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Semy (Capitulo 016)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010, 011, 012, 013, 014, 015)

CAPITULO 16

Abandonaram a sala principal e deixaram Dan Tolos tomar o comando do caminho
No meio de conversas banais, percorreram os corredores, as salas e os quartos. Contudo, o estado de ansiedade de Dan ia aumentando. Estava nitidamente à procura de algo muito concreto, porque por várias vezes passou por escravas que, anteriormente, em outras visitas, lhe dominavam a atenção e agora eram completamente invisíveis aos seus olhos. Desconfiados e cada vez mais convictos de que procurava as três morenas, os Elmer e Clive trocaram olhares de confirmação. A conversa que puxavam era no intuito de disfarçar que sabiam muito bem qual era o seu objectivo. Não podiam de modo algum demonstrar saber da existência das escravas de olhos e cabelos escuros que todos falavam. Dan Tolos nunca as poderia ver e muito menos reclamar a sua posse.
Farto de não encontrar o que pretendia, Dan Tolos surpreendeu-os quando disse que queria visitar a cozinha. Os Elmer indicaram-lhe o caminho a seguir.
Chegara a altura de revelar à cozinha que se dirigiam para lá. Leo juntou-se a Clive e a conversa com o senhor de Nastro prosseguiu. Apenas Dave preferiu permanecer calado. Não poderia fugir do comportamento habitual para com Dan Tolos. As suas vozes seriam um aviso para todos na cozinha. Com os ouvidos bem apurados, Jullien ouviu-os e alertou logo as suas amigas. Muito nervosas, esconderam-se ainda mais por entre os troncos e ramos de lenha.
Quando chegou à cozinha, Dan Tolos encontrou um ambiente calmo e fora de suspeitas. Mas mesmo assim, olhou para todos com um ar desconfiado. Aquele olhar quase simpático era o mais mortal dos olhares, o mais inquiridor dos que lançava a quem o enfrentava de perto. Os irmãos trocaram expressões que denotavam preocupação e curiosidade.
Lann levantou-se da sua cadeira e perguntou assim que chegou junto do alto homem:
- Deseja alguma coisa, senhor? Uma fruta amarga, talvez.
Bem junto ao ouvido de Lann, Dan ameaçou com calma:
- Não penses que os teus senhores te podem proteger lá por seres o seu braço direito. Eu posso fazer o que quiser e bem entender! Sai da minha frente!! - Em voz bem alta, acrescentou colocando as mãos sobre a mesa no centro da cozinha já sem conseguir disfarçar a sua irritação: - Quero ver tudo! Quero ver tudo muito bem neste lugar!!
- O que queres daqui Dan?
- Cala-te Leo!!!
Por onde passava abria portas e olhava para dentro de cestos e recantos. Desarrumava tudo que fossem lugares suspeitos para esconder alguém. Os escravos começavam a ficar nervosos com os gestos e atitudes de Dan Tolos. Ele estava fora de si. Só o tinham visto assim poucas vezes.
- Procura algo, senhor? - inquiriu Jullien. - Poderei ajudá-lo?
Dan respirou fundo e ignorou-o. Olhou para Dave que o matava com o olhar e respondeu num sorriso:
- Conheço-te... Eu vi-te... Talvez... se me disseres onde é que ela está. - E Dan levantou-o do chão pelo pescoço e roupa e encostou-o à parede. - Onde é que ela está?!!
- Ela... quem... senhor? - balbuciou Jullien a custo.
- Ahhhhhh... Eu sinto a sua presença... - Levantou a cabeça e gritou: - Vá, diz! Tu sabes muito bem!! És seu amigo. Onde está? ONDE ESTÁ????
- Pára imediatamente! - gritou Dave já furioso. - PÁRA! Eu não admiro que faças isso a um dos meus melhores escravos. Tu não estás na tua fortaleza! Larga-o já!!! Se continuares a ameaçar os nossos escravos essa maneira tresloucada, sou obrigado a pôr-te fora do castelo e por sua vez fora da cidade!! Será que desejas essa vergonha?
- Não serias capaz!!
- Não me dês razões para o fazer!!
- Ahhh vais ser atormentado pelo teu pai!! Lembra-te da jura que...
- Já te avisei Dan Tolos!!
Os olhos de ambos envenenaram-se.
- Serias tu o senhor da guerra! Experimenta, Dave Elmer! Experimenta e verás! Não consegues imaginar o que vais originar!!
Depois de um momento de silêncio em que todos esperavam ansiosos pela reacção dos dois senhores, Dan Tolos largou o servo franzino. Mas prosseguiu com a procura. E procurou, procurou, agora de uma maneira louca. Derrubou loiça e alimentos para o chão. E ninguém tinha coragem de o deter.
Jullien afastou-se massajando o pescoço.
- Onde está ela??? Eu sei que está aqui... - disse batendo com os punhos fortemente numa das mesas da cozinha. - Eu sinto-a! Eu sinto-a!!!
Leo segurava Dave mas sabia que não o conseguiria por muito mais tempo. O irmão estava prestes a quebrar a jura que tinha feito no leito de morte de seu pai.
- Não sei do que falas, Dan. - declarou Clive.
- A hora de brincarem comigo, terminou. Será que sabes o que isso é, bebé? Não tinha tanta certeza. Sai da minha frente!! A minha conversa é com os Elmer!! Tu, Leo, sabes o que quero, não sabes?
- Não.
As gargalhadas arrebatadas de Dan Tolos incutiram o medo em todos os escravos.
Dentro do depósito de lenha, Jamie, Muriel e Kate suavam com o calor que fazia no local, e também, porque o medo dominava os seus corpos. Por entre a lenha forte e fraca, esperaram que a cozinha ficasse livre. O coração ainda bateu mais quando Dan abriu a porta do depósito. Disfarçadas por baixo dos troncos, observaram a sua silhueta sem que Tolos as conseguisse ver. Todavia, parecia que sentia as suas presenças naquele lugar. Permaneceu demoradamente a olhar para dentro da sala escura. Foi então que Jullien entrou no depósito avisando que necessitava buscar lenha para o fogão. O rapaz louro tentava assim, despistar Dan. Com uma aparente calma, apanhava alguns troncos em vários sítios sem pôr a descoberto qualquer das três mulheres. Jullien sentia os olhos de Tolos sobre si.
Quando ia a sair com a lenha nos braços, Dan Tolos empurrou-o e, sem hipótese de se equilibrar, Jullien caiu exactamente no lugar onde se encontrava Muriel. Apanhada de surpresa e sentindo uma forte dor num dos braços, libertou um grito. Nunca conseguiria aguentar a dor em silêncio. Tinha sido fatal demais.
Rapidamente, Tolos entrou de novo no interior do depósito, desviou Jullien, e começou a tirar os troncos e ramos onde estava Muriel. Enquanto isso, vendo uma oportunidade para escapar, Jamie saiu sem barulho do seu esconderijo bem por detrás do forte homem. Mal reparou que tinha encontrado a pessoa errada, Dan Tolos virou-se e apanhou Jamie a fugir. Num gesto repentino e certeiro, agarrou-a e levou-a para o meio da cozinha. Ela tentava libertar os braços das mãos de Dan que os apertava fortemente.
- Eu sabia que estavas cá!
- Esta voz! Foi este o cavaleiro que me agarrou hoje de manhã. - afirmou Jamie a olhar para a cara do homem de cabelos escuros que a agarrava. E nesse momento, também se recordou da respiração ofegante. O seu choque foi total. Era completamente diferente do que tinha imaginado. Como era possível que um homem tão belo poderia ser tão malévolo.
- Tu um dia... ainda serás minha... - murmurou ao ouvido de Jamie quando a chegou mais perto do seu corpo apertando-a com força. Jamie olhou-o surpreendida a poucos centímetros da sua cara. Observou-o bem, mas com muito receio. Não acreditava que aquele homem pudesse ser a criatura que todos temiam. Não possuía nada na sua cara que a levasse a pensar isso. Encontrou um olhar louco mas hipnotizador.
Dave, furioso com o comportamento de Dan, não conseguiu aguentar por mais tempo a sua raiva e aproximou-se dele para o travar mas foi impedido pelo irmão e por Clive que o seguraram fortemente. Muriel e Kate saíram do depósito e Dan observou-as.
- É com esta que quero ajustar contas... - disse acariciando-lhe os cabelos sem deixar de a segurar com o outro braço. - Minha cabra selvag...
E foi nessa altura que Muriel aproveitou para se atirar para as pernas de Tolos. Sem esperar o gesto da mulher, o formoso homem caiu no chão deixando Jamie para trás. Quando ia a levantar-se, levou com um forte murro de Jamie que o estendeu no chão outra vez.
- Eles não o podem fazer, mas eu posso. - declarou a jovem esfregando a mão - E tornarei a fazê-lo se for necessário.
Furioso, Dan Tolos levantou-se e quando ia para agarrá-la, foi impedido de o fazer por Dave, Leo e Clive. Tolos queria livrar-se das mãos dos dois, mas estes tinham-no bem seguro. Entre palavras de raiva, retiraram-no da cozinha. Sempre a olhar para Jamie, Dan gritou:
- Vais arrepender-te do que me fizeste!! Tornarás a ver-me!! Fixa bem a minha cara!
As três suspiraram de alívio quando deixaram de o avistar.
- Será que ele volta?
- Hoje já não, Muriel. - afirmou Lann nervoso. - Mas isto ainda só agora começou... Ele agora já sabe da vossa existência e não vai acalmar.
- Ai assim fico com medo... - suspirou Kate.
- Eu fui buscar lenha para que ele não pensasse que se encontravam lá. - disse Jullien tristemente. - Afinal deu tudo errado. Quando eu quero ajudar, só sai asneira.
- Não digas isso, Jullien. Obrigado pela tentativa. Até porque foi uma boa ideia. - agradeceu Muriel.
- Aquele homem é estranho. - sussurrou Jamie ainda a massajar a mão. - Até parece que a maldade lhe dá qualidades para ver no escuro... Diabólico... - E limpou uma lágrima de medo que escorreu no rosto sujo.

Sem comentários:

Enviar um comentário