quarta-feira, 7 de julho de 2010

Semy (Capitulo 008)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007)

CAPITULO 8

O pequeno descanso foi interrompido pela entrada repentina de um possante homem na sala. De meia idade, conservava o seu corpo musculado em plena saúde. Trajava de semelhante modo ao dos irmãos, apenas com uma pequena diferença: usava um pequeno chapéu redondo que mal se notava no cimo da cabeça. Com os olhos verdes a brilharem, chamou-as pelos nomes, no que acertou correctamente nas respectivas donas. Indicou o caminho com o braço, levou-as através de vários corredores e acabou por descer uma escada de pedra já muito usada.
Poucos metros a seguir, entraram numa sala com muitas mulheres: umas completamente nuas e outras com algumas peças de roupa. O certo é que todas elas pararam de se lavar ou vestir para observar a entrada das misteriosas mulheres de quem todos falavam. Sabiam da sua chegada a Semy mas agora era altura de as verem ali mesmo.
Encontravam-se na sala de banhos das escravas. Lann ordenou a um grupo delas, que lavassem e vestissem as raparigas. Entregou a uma delas as roupas de trabalho, e saiu fechando a porta.
Um grupo de escravas começou a retirar as roupas de Jamie, Muriel e Kate. Afastando-se delas, Jamie disse:
- Por favor, parem. Não é preciso. Se vamos ser escravas como vocês, não queremos que façam isso. Digam-nos apenas onde podemos lavar-nos e colocar as roupas velhas. Depois, continuem a fazer o que estavam a fazer. Não precisam...
- Não podemos desobedecer a Lann. - avisou uma das escravas de cabelo louro.
- Eu responsabilizo-me. Eu falo com ele.
- Não, não, não!. Se desobedecermos, seremos castigadas. - declarou uma outra também de longos cabelos claros e a insistir em tirar a roupa a Muriel.
- Então que seja eu a castigada. - insistiu Jamie afastando-as.
- Parem! - afirmou Lann sem ninguém ter detectado a sua entrada. Olhou de alto abaixo a mulher que o desafiava e acrescentou: - Não serão castigadas. Deixem-nas. - Rondou Jamie e acrescentou: - Lavem-se ali ao fundo e queimem as vossas roupas ali no fogo. Dentro de minutos estarei aqui. E é bom que desta vez não recusem as minhas ordens.
- Mas nós comemos muito! - interveio Muriel tirando a sua camisola com marcas de sujidade. - Vai fazer-nos mal.
- Não vou repetir a minha ordem. - respondeu fechando a porta devagar.
- Sorriu... Simpatizou convosco, e isso é um bom sinal. - declarou uma escrava idosa que se encontrava sentada no fundo da sala. A luz vinda da janela, iluminava-lhe os muitos cabelos brancos.
- Sendo ou não um bom sinal, teremos de obedecer às suas ordens para sobreviver. - respondeu Muriel.
- Mas serão sempre especiais. Sempre.
- Porquê? - inquiriu Jamie
Uma das escravas pegou no cabelo de Jamie como resposta.
- Aqui neste lugar talvez existam certos privilégios que ainda não entendemos e que não os queremos ter. Muito menos privilégios baseados na cor do cabelo ou na dos olhos. Somos escravas como todas vós. - redarguiu Jamie com um leve sorriso no canto da boca. - Podemos ter um aspecto diferente, contudo não fizemos nem faremos dele uma vantagem. Aqui somos todas iguais.
- Nós gostaríamos de saber mais coisas sobre os senhores da cidade e um tal de Dan Tolos.
Quando Muriel pronunciou o último nome, todas as escravas murmuraram e fizeram um gesto, desconhecido para as três. As expressões de cada um dos rostos presentes na sala alteraram-se radicalmente.
- Peço-lhe que não fale nesse nome. - pediu a escrava mais velha.
- Porquê? - questionou Kate.
- Esse homem é maldito. Escrava que poisar nas suas mãos, não sairá viva de certeza, ou... ou ficará marcada para sempre. E os escravos também são muito castigados. Esse homem é um demónio!
- Ele experimenta todas as novas escravas que adquire. Se não fizerem aquilo que ordenar no dia seguinte já não se encontrarão vivas. Uma escrava não dura mais de dois meses em Nastro. Aquilo é um inferno! Acreditem!
- Soubemos tudo isto por uma que conseguiu escapar. Mas, pobre coitada, durou pouco tempo em Semy.
- Quando está com falta de escravos, vem aqui comprá-los. Os Elmer só vendem aquelas que trabalham pouco ou as de mau feitio, as que arranjam sarilhos...
- Os Elmer tratam muito bem quem os serve com lealdade. Mas é sempre um martírio quando esse homem vem cá. Por vezes, não fica satisfeito com os escravos que lhe apresentam e então, passeia-se pelos corredores e quartos para escolhê-los. E se os irmãos não quiserem vender, essa maldita criatura, ameaça com guerra.
- Os Elmer não têm qualquer receio em o enfrentar mas... desagrada-lhes andar em guerra. Nisso, saíram ao pai. Que bom homem era. - concluiu a escrava idosa.
- Consta que fizeram uma promessa no seu leito de morte...
- Nem sei o que dizer. Na terra donde viemos não existia nada disto... quero dizer, não se vivia assim. Porque maldade existe em todo o lado, seja no passado, no presente ou no futuro. Muito obrigada pelas explicações, senhora... Como é o seu nome? - perguntou Jamie junto da escrava que se mantinha sentada numa cadeira.
- O meu nome é Zaca. Só peço que esse maldito nunca as encontre. Mas será impossível escondê-las dele por muito tempo. O vosso aspecto é muito diferente das mulheres de Semy e saltará logo ao olhar daquele caçador, começando pela cor dos cabelos e olhos. Chamam a atenção. Ele acabará por as descobrir. Infelizmente, parece que adivinha... Não as prendo mais.
- Mas queremos saber mais sobre este lugar e suas gentes.
- Noutra altura Kate. Temos de nos despachar. Não estou com vontade de conhecer os castigos deste lugar. - resmungou Jamie puxando-a do chão.

Sem comentários:

Enviar um comentário