sexta-feira, 28 de maio de 2010

Semy (Capítulo 002)

(Capítulos anteriores: 001)
CAPITULO 2

Depois de um longo e repousante almoço, chamaram um táxi que as levou, sem grande demora, à morada indicada no matutino. Quando chegaram ao possível futuro local de trabalho, maravilharam-se com a grandeza e beleza do lugar.
- O local será mesmo este? Está tão sossegado e deserto. - comentou Kate. - Estava à espera de mais pessoas por aqui...
- Eu também. - respondeu Jamie cada vez mais desconfiada.
O edifício era uma autêntica mansão estilo colonial. A enorme moradia era rodeada por um grande jardim de onde surgiam flores de todas as cores e tamanhos em conjunto com outra vegetação tão bem cuidada. Árvores imponentes de muita folhagem, ofereciam sombra ao caminho que conduzia à frontaria da casa. As jovens subiram a rampa de acesso devagar, contemplando todas aquelas maravilhas. Assim que chegaram junto das colunas de mármore que ornamentavam a fachada do edifício, alguém lhes abriu a porta sem que tivessem tocado à campainha.
Um homem de meia idade, de estatura normal, mirou-as desconfiado. Olhou para todas com os seus olhos claros e com um leve sorriso dirigiu-lhes a palavra.
- A razão da vossa presença aqui é o anúncio por mim colocado no matutino. Entrem. Eu observei-as a abandonar o interior do veículo de aluguer.
O misterioso homem de cabelo castanho curto levou-as através de um enorme hall decorado no mesmo estilo da moradia, de onde se destacavam a presença de inúmeras obras de arte, desde a pintura até esculturas de variados géneros. E entraram devagar numa sala que seguia a mesma linha de decoração. Uma lareira de largas proporções era o centro das atenções, apesar de se encontrar apagada. As três amigas sentaram-se timidamente no sofá enquanto que o estranho homem preferiu permanecer em pé encostado à lareira de mármore claro.
- Fui registado com o nome de John B. Shaw. Sou um cientista solitário que estuda alguns fenómenos e enigmas relacionados com o homem e a noção convencional de tempo. Sou monetariamente independente e auto-suficiente, muito rico se preferirem. Não necessito abandonar a minha residência para estudar, pesquisar, preparar e efectuar as minhas experiências. Possuo o meu laboratório na cave desta mansão, construído segundo as normas mais rígidas de segurança. Apesar de brincar, tal como todos os cientistas, com o fogo, sei como o controlar sem prejudicar os meus colaboradores e até mesmo a minha própria sobrevivência. Pretendo pagar um salário de seiscentos mil dólares...
- Quinhentos era o que dizia no jornal. - interrompeu Muriel.
- Seiscentos mil dólares às três, sem incluir alojamento e alimentação durante os dois meses. Se apreciar grandemente o vosso trabalho, se ele realmente me agradar, poderão permanecer mais algum tempo, talvez até com um salário superior. Agora, antes de uma resposta, gostaria de saber o nome e idade. Ah! Não possuem qualquer membro mais chegado de família, pois não? Esse aspecto é fundamental para a concretização do contrato.
- Não temos ninguém, apesar de estar intrigada por destacar esse pormenor. O meu nome é Jamie Mills e tenho vinte e seis anos.
- Eu sou Muriel Walters e também tenho vinte e cinco anos de idade.
- Kate Donan. Vinte e quatro.
- Existe um pormenor que achei curioso no seu anúncio.
- Sim? O quê, Miss Mills?
- É que não pedia nenhum diploma comprovativo ou a escolaridade suficiente para alguém que certamente irá lidar com produtos químicos ou algo semelhante. Só se... o contrato incluísse uma cláusula que não fosse oportuno assinalar no jornal. No anúncio somente pedia assistentes...
- Tem razão... Serão minhas assistentes em muitas actividades, principalmente em trabalhos onde serei o professor, guia e vigilante. De resto, só pediria que reservassem algum tempo para cuidarem de tarefas ligadas à limpeza e conservação desta casa.
As três raparigas entreolharam-se.
- Porque não contrata pessoal especializado para esses serviços? Se é tão rico, como afirma... - inquiriu Jamie.
- Não aprecio muito movimento na minha casa; gosto da minha privacidade. Prezo imenso trabalhar sem ser incomodado constantemente com pormenores fúteis e muitas vezes despropositados. E além disso, prefiro conhecer com calma o carácter e personalidade individual de quem lida comigo. Com muitos indivíduos a circularem nesta mansão, isso não seria possível. Espero vir a conhecer-vos muito bem, ter confiança em vós, isto é, se ficarem. Devo acrescentar de que foram as quartas a responder.
- Só responderam quatro pessoas? Estava à espera de muito mais devido ao valor que oferecia no anuncio. E o que tinham as outras candidatas que o levou a recusar os seus serviços?
- Uma terrível curiosidade, Miss Mills. - E olhou bem nos olhos de Jamie como que avisando-a.
Houve um momento de silêncio ao que Shaw acrescentou:
- Gostaria que aceitassem.
Jamie, Muriel e Kate trocaram de novo olhares e saiu a resposta.
- Nós ficamos. Quando começamos a trabalhar?
- Minha cara Miss Mills, agora mesmo se desejarem. Existem muitos quartos vagos no andar superior. É só escolherem o melhor local de acordo com o gosto individual.
- Eu preferia um virado para o seu belo jardim. - respondeu Muriel junto de uma das várias janelas existentes na sala.
- É o local onde dedico os meus tempos livres. Adoro jardinagem. São esses momentos em que toco na terra e nas plantas que o meu espírito se esquece do seu redor, liberta-se, para mais tarde ser precioso nas pesquisas no laboratório. Alguma de vós sabe conduzir?
- Todas nós sabemos. - respondeu Jamie. - Porque o pergunta?
- Podem levar a minha carrinha. Não é muito grande nem muito pequena, tem o tamanho ideal para que possam transportar os vossos objectos.
- Não receia que fujamos com a carrinha? Mal nos conhece...
- Não. Em qualquer esquadra, a minha palavra é ordem, algo que não se passa certamente convosco, Miss Walters. Aqui está a chave. O veículo encontra-se na garagem que fica situada nas traseiras da mansão. Esperarei por todas ao jantar. Podem ir, nada mais tenho a acrescentar.
E saíram da casa, deixando na sala um John Shaw pensativo. O breve sorriso deixou transparecer uma certa satisfação. O plano estava em marcha.
Mal contornaram a fachada do edifício, as três jovens localizaram imediatamente a garagem. Sem perda de tempo, dirigiram-se para a pequena casa. A garagem encontrava-se aberta e minutos depois, a carrinha saía da propriedade conduzida por Muriel.
- Acho uma pessoa estranha este John Shaw. Acho que tem a mania que é superior.
- Ora Kate, todos os cientistas são estranhos por natureza. Até nós somos também um pouco estranhas e não somos cientistas, nem nada parecido. - declarou Muriel a rir.
- Eu sinto qualquer coisa de invulgar naquele homem. Mas é melhor esquecermos isso por agora. Teremos ao fim de dois meses um bom dinheiro para aplicarmos em algo rentável. Precisamos dar o nosso melhor neste trabalho. Desde que ele pague na altura certa, sem atrasos, é o que interessa. É impossível julgar uma pessoa numa simples conversa de vinte minutos. Vai ser um óptimo emprego. Não vamos ser pessimistas.
- Pode ser que sim... não sei. - murmurou Kate enrugando a testa.
- Nem eu... - sussurrou Jamie tentando disfarçar a sua preocupação.

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