Pediste-me para me sentar junto a uma mesa desprovida de tudo e aguardar.
Sentada na cadeira, movo o olhar sem levantar a cabeça. Fecho os olhos momentaneamente e desejo que chegues.
Odeio estas esperas de surpresas tuas.
Adoro estes jogos que me provocam.
Consciente disso, entras com algo na mão.
Puxas a cadeira e sem olhares para mim... sentas-te.
E então, cravas-me o olhar, queimando-me.
E eu, imóvel, respondo-te de igual modo.
Levantas uma foto como que acusando-me.
E eu levanto o sobrolho e pergunto:
- Que queres?
- O que vês? - perguntas tu rapidamente.
- Céu.
- Puxa-me - exiges tu.
E atiras com a foto para longe.
Num leve sorriso, pegas noutra e colocas junto dos teus olhos.
- Terra - respondo.
- Prende-me.
Aproximo-me da mesa e, repentinamente, agarras-me na mão e prendes-me o pulso.
Não te dou sinal da dor do prazer que começa a nascer.
Pegas numa outra foto e acaricias-me com ela lentamente, muito lentamente vendo a minha pele a responder a tal toque. E paras no topo do braço e perguntas:
- O que vês?
- Água.
- Rebenta-me.
Levantas-te, viras-me para ti prendendo-me o outro braço.
Não sei onde queres ir mas dali não posso sair.
Com outra foto na mão, tocas-me com a ponta desde o pescoço até ao joelho.
Demoraste.
Demoraste muito pelo caminho.
Já deixei de ver o que a foto mostra.
Já só te vejo.
Já só vejo os cliques do teu olhar cravado na carne que consomes em cada passagem da foto.
Rasgas-me e expões-me.
E tocas-me novamente com a foto.
E não permites que fale.
Colas-me uma foto nos lábios transpirados por ti.
Brincas com as fotos na minha pele colando-as onde recusas tocar-me sabendo que são redutos teus, só teus.
Com a última foto, arrepias-me, beijas-me, torturas-me.
Largo uma lágrima, não de dor mas de arrebatamento, e tu pegando nela beijas-me e dizes:
- A última foto vou tirá-la agora...
E entras sem cerimónia depois de entregues tantos convites.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
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