terça-feira, 1 de junho de 2010

Semy (Capitulo 003)

(Capítulos anteriores: 001, 002)

CAPITULO 3

Os dias passavam e as três jovens apreciavam cada vez mais as suas pequenas e grandes tarefas. Apesar de um certo mistério inicial, dia a dia, aumentava a simpatia para com o patrão. Residia agora entre todos, a confiança necessária para um ambiente de bem estar na mansão Shaw. Apenas um pormenor continuava a intrigar Jamie Mills. Possuía conhecimentos suficientes de química para compreender que certas experiências de John eram extremamente perigosas e enigmáticas. Resistia uma grande dúvida relacionada com a sua finalidade. Shaw nunca lhes informara concretamente sobre o motivo dos seus estudos. Era o grande segredo, o único que mantinha fechado a sete chaves. O entusiasmo em conhecer os resultados, talvez até o resultado final, era tão poderoso que o levava a passar noites seguidas no interior do laboratório, na cave.
E foi numa dessas noites que as amigas acordaram ao som da sua voz, um grito de felicidade.
Juntaram-se frente à porta do quarto de Kate, e comentaram:
- Ele gritou: "Descobri". O que será que descobriu? - perguntou Kate aproximando-se do corrimão. - Estou com uma vontade de lá ir abaixo...
- Não podes!! - lembrou Muriel com uma vontade de fazer o mesmo.
- Não sabemos e creio que nunca o viremos a saber. O único facto que sei é que acordou-nos e deixou-nos demasiadamente curiosas para voltarmos a dormir. Vamos lá abaixo! Já é tempo de descobrirmos a origem de tanto esforço e estudo.
- Não podemos Jamie!! Já sabes que...
- Kate, eu vou lá abaixo.
- Esperem! - pediu Muriel a correr para o seu quarto. - Ao menos deixem-me vestir o robe!
Com as pernas agitadas ao máximo, desceram as enormes escadas que terminavam no hall. Silenciosamente, continuaram o caminho, desta vez, descendo até à cave utilizando os degraus bem por baixo da escadaria que ligava os dois andares do edifício. Chegaram à porta do laboratório para logo verificarem que se encontrava fechada. Jamie reparou que estava trancada por dentro.
Desapontadas, regressaram aos quartos. Durante o resto da noite, nenhuma delas conseguiu dormir, sempre na esperança de descobrirem o segredo do cientista.
No dia seguinte, tiveram de disfarçar o seu sono, não fosse John ficar desconfiado e então seria muito pior para todas. Num momento do seu descanso, indo ele repousar para o quarto, Jamie, Muriel e Kate desceram rapidamente até à cave convictas de que iriam, finalmente, descobrir algo que lhes revelasse o mistério. Porém, quando lá chegaram, o único pormenor diferente era a existência de três cadeiras pregadas na parede esquerda do laboratório.
- Para que será isto? - inquiriu Kate.
- Não faço a mínima ideia. - afirmou Jamie a observar as cadeiras com interesse. - Penso que ainda não é o produto acabado. São cadeiras normais... quase normais... Não estou a gostar disto, nada mesmo...
- Ele vem aí! - avisou Muriel afastando-se da entrada do laboratório. - O que fazemos? O que lhe vamos dizer?
- Kate, pega no pano, Muriel, tu na vassoura. Eu vou começar a lavar o chão.
Sem sinal visível de surpresa ou de preocupação pela presença das colaboradoras naquele local, John entrou muito calmamente no laboratório.
- Começaram bem cedo as vossas tarefas. Tiveram uma boa noite de sono?
- Dormimos como pedras. Acordámos cheias de energia. - respondeu Muriel continuando a varrer. - Se quiseres vir para aqui Jamie, já podes lavar este bocado.
- Sim, já me tinham dito. Peço perdão pelo esquecimento. São os anos de estudo e pesquisa que fazem algumas feridas na mente frágil e complexa do ser humano. Ainda bem que se encontram a limpar toda esta sujidade. Deixei tudo emporcalhado com o meu trabalho. Peço, uma vez mais, perdão pelo descuido. Se quiserem, poderão sair hoje. Têm o resto do dia livre. Apareçam só ao jantar.
- E quem fará o jantar?
- Não se preocupe, Muriel. Eu mesmo tratarei da alimentação referente à terceira refeição do dia.
- Óptimo! Os seus cozinhados são sempre uma delícia.
- Obrigado, Jamie. Podem ir, podem ir. Escusam de gastar energias a limparem o laboratório assim tão bem. Dentro de momentos, irei sujá-lo um pouco mais.
- Precisa de descansar. Não tem dormido o suficiente.
Shaw levantou-lhe um olhar satisfeito e a sorrir disse:
- Não agora, Kate. Presentemente não é o momento ideal para pausar os meus estudos e experiências. O trabalho tem de prosseguir seguindo uma ordem determinada. Para se atingir os resultados esperados, é preciso dar o nosso melhor esforço. As ideias concretizam-se assim. Por muito que as histórias populares afirmem que Newton descobriu a gravidade quando uma maçã lhe caiu na cabeça enquanto repousava debaixo de uma árvore, são apenas versões simples de uma vida de dedicação. O verdadeiro esforço nunca interessa ao comum dos mortais. A ele, somente é importante o resultado, não o seu longo caminho de pesquisa.
- Então até mais logo. - responderam todas quase simultaneamente.
Levando consigo todos os objectos de limpeza, o trio abandonou o laboratório.
Mal saíram, a cara de John Shaw sofreu uma clara e rápida mudança de expressão. Dos seus olhos sinceros, nasceram olhares estranhos, e do canto da boca, um sorriso malicioso completava o aspecto puramente desconcertante. Aumentou o sorriso e falou para si próprio:
- Já caíram na armadilha. Finalmente vou ter a minha glória! Finalmente!... - e soltou uma breve gargalhada.

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