quinta-feira, 15 de julho de 2010

Semy (Capitulo 009)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008)

CAPITULO 9

Num dos compartimentos de madeira as três despacharam-se a tomar o seu banho. De cortina corrida e com cada uma dentro da sua selha, conversavam.
- Eu já não saía daqui. Só de pensar o que nos espera...
- Tens toda a razão, Kate. Mas não te esqueças que agora somos escravas, temos de trabalhar. Iremos trabalhar para comer e viver. Acabaram-se as compras, a televisão, os cd's de música, bares, dança... a liberdade.
- Oh, dançar! Boys!! - exclamou Muriel.
- Trabalhar no duro! Quando não é certo que iremos parar às mãos do tal Dan Tolos. - acrescentou Kate a lavar os cabelos.
- Gostaria de conhecer a cara dele para perceber se revela o monstro que dizem que é. Seja quem for, temos mesmo é de nos manter afastadas dele. Não quero morrer tão cedo. Acho melhor sairmos...
Mas Jamie foi interrompida pela abertura da cortina. Visivelmente insatisfeito, Lann olhou para todas. Mal viram de quem se tratava, baixaram-se rapidamente deixando só as cabeças fora de água.
- Acabou o tempo. Levantem-se e vistam-se. Ou querem ser castigadas logo no primeiro dia? Fora da água JÁ!
- Assim que baixar a cortina nós faremos isso sem demora. - respondeu Kate timidamente a tapar-se o melhor que conseguia.
O grande homem de chapéu redondo riu alto e disse:
- Desta vez... passa. Fico à espera no corredor. Quero-as lá fora. E eu não espero nem mais um instante. - avisou fechando a cortina.
As roupas de trabalho eram muito simples: uma blusa larga, uma saia também larga quase até aos pés e um colete justo, tudo de cor castanha. Custou um pouco a todas deitarem as roupas velhas no fogo da lareira. As últimas recordações palpáveis do seu mundo eram consumidas pelas chamas. Seria melhor assim. Deixariam de pensar na sua casa. Era o adeus final. Agora, a sua terra era Semy. Tinham de aprender a viver na nova realidade.
Ainda algo atrapalhadas apareceram junto a Lann fora da sala de banhos. Traziam os cabelos molhados e terminaram de ajeitar as botas seguras com fios grossos. Devagar, Lann mostrou todos os lugares do interior do castelo e fora dele. No pátio, todos queriam ver de perto as estranhas mulheres. Quando a visita terminou, levou-as novamente para dentro da torre a fim de mostrar o quarto onde iriam ficar instaladas. Passaram pela sala principal, já sua conhecida, e seguiram por um largo corredor também ele decorado com tapeçarias.
Quando chegaram ao final de um corredor menor, Lann abriu uma porta e esclareceu:
- Este vai ser o vosso quarto. No corredor, está situada a porta para a sala onde existem as entradas dos quartos dos Elmer, como já lhes indiquei. Eles pediram para ficarem aqui, porque como vão ser as escravas que cuidarão de tudo que lhes diga respeito, devem permanecer sempre perto no caso de precisarem de algo. Além de cuidarem o melhor possível dos seus haveres, farão também outras tarefas que eu ocasionalmente indicarei. Dentro daquela arca, existe mais roupa. Amanhã já começam as vossas tarefas. Eu, pessoalmente, virei acordá-las bem cedo. - E fechou a porta. Tornou a abri-la e acrescentou: - Não tentem fugir. Isto está sempre muito bem guardado. - E saiu deixando a porta definitivamente fechada.
O quarto era pequeno. Havia três camas, uma mesa, um banco velho e a arca junto da janela que deixava entrar a já pouca luz do dia. Jamie abriu-a e espreitou o exterior. O movimento lá em baixo no pátio, frente à torre de menagem, diminuía à medida que a noite se aproximava. Era o primeiro dia da sua nova vida. E quantos mais esperariam por elas? O vento agitou os cabelos encaracolados e ela fez um esforço por não largar uma lágrima que teimava em cair. Não podia mostrar fraqueza junto das amigas porque contavam sempre com a sua força. Tentava controlar o medo que a assolava. Limpou a lágrima e fechou a janela.
- Está frio e já estão todos a ir embora.
- É tão cedo para irmos dormir. - comentou Kate a experimentar a sua cama.
- Já começo a ter saudades da televisão. - declarou Muriel sentada na sua cama a escovar o cabelo negro. - Falta-me ouvir uma musiquinha agradável e conhecida. Não sei se vou aguentar esta vida. Isto é tudo inimaginável.
- E ainda não vimos nada. - sussurrou Jamie olhando para o tecto.
- Vai ser um pouco difícil do início.
- Ora, Kate, vai ser mesmo muito difícil! Por mais que não nos custe trabalhar, estes dias que se avizinham, vão causar muito cansaço em todas nós. Não estamos habituadas a este tipo de trabalho e a todas as suas horas. Acabaremos por nos habituar mas até lá... vai custar.
- Os Elmer são mesmo giros.
- Ohhh Muriel tu por favor cala-te com isso! Se um deles te apanhar a jeito e te saltar para cima quero ver se o vais achar assim tão giro.
- A Kate tem razão. Nós arriscamos a que nos façam isso e não podemos negar. Somos escravas. Por isso nada de encantamentos porque isto aqui não é o século XXI. Vamos mas é dormir. - disse Jamie já dentro da cama.
- Bons sonhos. - desejou Kate tristemente.
- Para vocês também. - suspirou Muriel deitando-se. - Acho que não vou conseguir dormir... Isto é muito cedo para mim! Sou noctívaga.
- Cala-te e dorme morcega.
Enroladas nas cobertas, cada uma olhava para escuridão do quarto. Olhavam-na de maneira diferente, e no entanto, todas pediam o mesmo: pediam que a coragem ultrapassasse o medo neste desafio bem real.

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