domingo, 8 de agosto de 2010

Semy (Capitulo 011)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010)

CAPITULO 11

- Está aberta. - respondeu Wise Sage quando escutou um toque.
A porta abriu-se e espreitar Jamie disse:
- Mandaram-nos fazer a limpeza a esta casa.
- Entrem, entrem. Devem ser Jamie... Muriel e Kate. - disse à medida que entravam para o interior da cabana.
- Sim, está correcto. Mas como...? Que pergunta mais idiota! Alguém já lhes falou de nós. - declarou Muriel poisando no chão o pesado balde de madeira que trazia cheio de água.
- Cuidado com aquela mesa. Isso arruma o meu sobrinho. Só ele é que sabe onde e como quero as minhas coisas.
Enquanto limpavam e lavaram o chão, o sábio não lhes dirigiu a palavra. Limitou-se a observá-las atentamente sentado perto da janela junto à mesa fingindo ler um grupo de papeis. Quando as três se encontravam de costas, Wise Sage rabiscava com velocidade algo num papel e parava mal se viravam. Ao fim de algum tempo, o chão daquela casa mostrava um brilho raro em toda a superfície e a arrumação geral era evidente. Foi então, a altura que Wise Sage escolheu para iniciar a sua conversa.
- Belo trabalho. Obrigado. Não sei se lhes falaram de mim... Eu sou o sábio e curandeiro desta cidade...
- Já nos informaram. - respondeu Jamie a limpar as mãos. - É o ancião mais respeitado de Semy. Muita da vida da povoação depende de si, das suas resoluções, das suas visões, dos seus conselhos e dos seus cuidados.
- Certo, certíssimo! Eu não me poderia ter apresentado de uma melhor forma. - Sentou-se na cadeira junto à lareira e prosseguiu: - Sei muito bem que vieram de um outro mundo. Mundo esse, muito diferente deste em que vivem agora. Dave contou-me que não gostam de falar do vosso passado, principalmente de onde surgiram. E posso saber porquê? Esse assunto ficará apenas entre nós...
- O nosso passado deixou de existir a partir do momento em que viemos parar a este lugar. Foi o resultado de termos confiado numa pessoa que não merecia. - respondeu Muriel um pouco comovida. E passou com o braço pela testa de modo a limpar o suor que começava a escorrer-lhe pela face.
- Devo confessar que é realmente muito bonita.
Muriel sorriu algo constrangida.
- Um falso amigo que nos traiu mandando-nos para aqui, para uma terra totalmente desconhecida, quer a nível de pessoas como de costumes. E nem se preocupou que tal viagem poderia ter-nos causado a morte. - declarou Jamie pegando na vassoura com ar impaciente. - Tudo em nome de ideais... Mas já passou. Não interessa agora recordar. Viemos parar a este tempo e local sem maneira possível de voltarmos ao nosso verdadeiro mundo. Por isso, teremos de viver o resto das nossas vidas em Semy, cidade que até agora nos recebeu bem. E para mantermos, teremos de respeitar e fazer tudo que nos mandarem. Mas devo dizer que...
- O vosso sistema de segurança não funcionou ontem. - interrompeu o mago com um ar calmo.
As três mulheres olharam surpresas para aquele homem.
- De que está a falar?
- Da mesa, Kate.
- Mas, mas como soube? - inquiriu Muriel.
- Visões, como disseram há pouco. Engenhoso. Se alguém tentasse entrar no quarto, a mesa tombaria e avisaria da entrada furtiva.
- Era a nossa primeira noite em Semy e alguém poderia entrar e fazer-nos mal. Foi apenas uma simples maneira de não sermos apanhadas de surpresa. - explicou Kate a medo.
- Pensaram que os Elmer as quisessem molestar...
- Não o fariam. - respondeu Jamie. - Mas outros não sei...
- E porque não? São homens e vocês mulheres, mulheres únicas no seu género. É uma novidade.
- Se quisessem experimentar teriam feito na ocasião em que nos encontraram. E pelo que fomos sabendo, seriam incapazes de nos magoar.
- É uma questão de honra?
- A sobrevivência com as gentes de Semy. Queremos viver o melhor possível, sem conflitos, sem ódios, sem medos.
- Temos de ir, senhor. - disse Kate abrindo a porta. - Muito trabalho ainda nos espera pela frente.
- Não vão já! Fiquem um pouco mais. Não se preocupem, que eu responsabilizo-me. Se sou o ancião mais respeitado de Semy, mereço uma atenção redobrada. A minha casa estava muito suja... - E piscou o olho num sorriso. - Digam-me mais coisas sobre vós. Estou deveras curioso! Devo confessar que nunca vi nenhuma mulher com a cor dos vossos cabelos. Nunca. E são fascinantes por sinal. Toda a povoação se encantou com eles. E eu também! Fazem destacar todo o rosto e suas expressões.
- No nosso mundo existiam cabelos de todas as cores. Os naturais variavam entre o preto, branco, castanho e louro. Existiam tintas para quem quisesse pintar de outras cores. Poderia mudar-se a cor do cabelo sempre que se apetecesse.
- Mas que interessante... Deveria ser divertido estar numa sala com criaturas de cabelos da cor do céu e outras da cor das maçãs. Deixaram alguém importante donde vieram? - inquiriu o sábio com um brilho misterioso nos olhos.
- Não. - declarou Jamie respondendo de igual modo.
- Deixámos amigos... - lembrou Kate triste.
- E um namoradozinho... - suspirou Muriel.
- Desculpe, mas agora temos mesmo de ir. As tarefas não se fazem por si próprias. Gostámos muito de o conhecer - disse Jamie antes de abrir a porta.
- Talvez seja melhor sim... Apareçam sempre que quiserem. Serão bem vindas. - declarou o velho sábio à porta de sua casa vendo-as a afastar-se. Seguiu-as com o olhar até as perder de vista. Observou o movimento geral do pátio e mexendo na barba murmurou: - Eis que o momento chegou. Tenho de fazer... tenho de fazer! Está a começar a tarefa mais importante da minha vida. Finalmente!! Ahhh! Como está belo o dia! Obrigado Senhores do Céu! Humildemente agradeço as ofertas. Jamais pensei que fossem assim.
E no que pareciam passos de dança, entrou para o interior da cabana.

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