quinta-feira, 29 de julho de 2010

Semy (Capitulo 010)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009)

CAPITULO 10

Após o jantar, Dave e Leo dirigiram-se a uma pequena e modesta casa que morava dentro do grande pátio frontal à torre do castelo num dos cantos mais discretos. No exterior, ainda alguns trabalhavam sobre a luz de archotes que iluminavam um pouco a escuridão da hora. As estrelas brilhavam no céu e o ambiente estava agradável naquela noite. A casa só com uma janela, pertencia a Wise Sage, o sábio e mago de Semy. A presença de Lann também foi pedida pelo sábio que parecia intrigado e muito curioso com os últimos acontecimentos naquela cidade. Wise Sage era a figura mais acarinhada e respeitada de Semy e quando se apercebiam que tinha algo a dizer ouviam-nos com atenção. E foi o que aconteceu naquela noite.
Sentado junto à lareira sorriu e explicou a razão daquela reunião.
- Há algum tempo para cá que eu sentia que alguém diferente iria surgir nas nossas vidas. - Respirou fundo e prosseguiu: - Algo bom, não prejudicial, mas no entanto, nada pacifico. Forças poderosas se vão levantar.
Dave olhou-o e agitou a cabeça em sinal de discordância evidente. Wise Sage levantou-lhe um dedo e não parou de explicar.
Wise Sage tinha sido, no auge da sua vida, um homem alto. Agora, com o peso dos anos, vivia um pouco curvado. Usava o cabelo escasso e barba de cor branca um quase nada maior que o usual. O nariz era pequeno e os olhos verdes vivos, brilhavam quando olhava para a luz em cima da mesa. Ajeitou o seu roupão tradicional e aconchegou-o de volta das pernas.
- À medida que a minha idade avança, mais visões futuras eu tenho. E foi após uma dessas visões que presenciei a vossa chegada ao castelo. O tratamento dado às mulheres que encontraram não o aplicam nem aos escravos fugidos, nem mesmo aos de pior espécie. Trataram-nas como se fosse uma peça de carne morta, sem sensações nem temores. -Wise Sage juntou as pontas dos dedos frente ao nariz e levantou novamente o olhar para Dave. - Estas criaturas que descobriram são muito diferentes do que alguma vez conheceram e asseguro-vos de que nunca foram tratadas assim no local de onde vieram. São mulheres especiais, diferem demasiado das de Semy. Conhecem muito do que não sabemos, do que jamais viremos um dia a saber.
- Mas que mistério!
- Não quero ser objecto do teu gozo constante Leo.
- Calma! Eu paro. Nós não sabíamos que género de pessoas seriam. E ao ver aquele aspecto, receámos o pior.
- Recearam o pior? Tontos! Estão habituados a lidar com pessoas bem piores!! Por vezes penso que a vossa sabedoria e sensatez se desvanece e sai para passear.
- Não associou a cor dos cabelos a ninguém?
- Isso não vem ao caso, Leo. São assuntos completamente diferentes!
- Muita coincidência. Se estivesse no nosso lugar teria...
- Estamos a divagar e a afastarmo-nos do que vos trás aqui. Voltando ao que me interessa, expliquem-me como é que elas são? Estou muito curioso. Quero saber tudo! Não as vi bem quando chegaram.
- Por esta altura pensava que já sabia mais do que nós!
- Leo, responde. - resmungou Lann
Encostado à mesa, Dave assistia com expressão carregada mas recusava-se a sair do seu silêncio.
- Bem, nenhuma delas traz nos cabelos a cor loura, tão tradicional entre as mulheres de Semy. Os olhos são escuros, belos por sinal...
- Isso eu sei. revelem-me algo que não saiba, por favor.
- Uma delas é alta, dá-me pelo nariz e chama-se Jamie. Tem os cabelos compridos, cheios de caracóis, um corpo bem feito e olhos castanhos do tom mais escuro que já vi em toda a minha vida... É como se perfurassem a alma à procura de algo. É de todas a mais feia. - explicou Leo rindo-se no seu habitual ar de gozo. - A mais linda de todas é sem dúvida a Muriel. Lindíssimo cabelo preto, tão preto! Ahhh e os seus olhos... são um paraíso para admirar e recordar vezes sem fim. Estatura média, corpo perfeito. Linda! Linda! A pequena chama-se Kate. Por estranho que pareça usa o cabelo pelo pescoço, demasiado curto. A sua cara graciosa dá-lhe um ar juvenil. Um pequeno botão das mais simples e belas rosas. - concluiu a sorrir coçando a barba de alguns dias.
- Tenho um irmão poeta. - murmurou Dave com expressão carregada quebrando o silêncio desde que tinha entrado naquela casa.
- Muito bem, muito bem. Belas descrições. Gostei de ouvir. Eu próprio não teria feito melhor. - Atirou com um toro pequeno para a lareira e revelou: - Infelizmente só me trouxeram preocupação. Pelo que me contaram, quando o Dan Tolos nos visitar fará tudo para as conseguir para si. Terão de as esconder com perfeição.
- Ora porquê?
- Leo, o seu aspecto exterior único captará imediatamente a atenção de Dan e assim certamente que as quererá em Nastro. E estou certo que isso não está nos vossos desejos. Correcto?
- A mim tanto me faz. Fale ali com o Dave. Ele é que parece interessado em mantê-las cá. Não entendo... Poderiam render-nos uma fortuna fora do país.
- E Dave resolveu muito bem. Deve mantê-las em Semy a todo o custo. São preciosidades mas não para fora do país. Nunca, mas nunca deverão ir para Nastro. Se Dan Tolos as observar, nem que seja de longe, será um perigo. É fácil de imaginar o que ele faria com mulheres daquelas em seu poder. Não podemos permitir. Digo-vos, não podemos permitir. Porque infelizmente... tudo se complicará.
Dave olhou para os olhos do sábio e respondeu:
- Notará que não são de cá e as levará para ele. Eu sei. - Desviou o olhar e aproximando-se do fogo da lareira continuou. - Já que afirmou que elas serão algo benéfico, quero esperar para ver com os meus próprios olhos. Tratarei de as colocar longe dos olhares de Dan. A sua cobiça não as atingirá.
- Já estás com olhinhos para algumas, não é mano?
- Não, Leo. Quero estudá-las para depois resolver o que fazer com elas. Sei o que Wise Sage pretende...
- Sabes?? - perguntou o sábio abrindo os olhos - Sabes mesmo?
- É estudá-las, certo?
Respondendo ao olhar fixo do senhor de Semy, o mago sorriu e disse:
- Vejo que sabes o que eu pretendo.
- Não significa que concorde.
- Tu, Leo, nunca, nunca entendes nada do que eu digo.
- Eu também vou estudá-las. - disse o irmão mais novo piscando o olho.
- Pelo que vi e ouvi hoje na sala de banhos, acho que merecem amizade e respeito. Devo acrescentar que a mulher mais interessante, e para mim a chefe do trio, é a mulher que Leo frisou pela sua falta de beleza.
- Pois é Lann... o problema de Leo é de só ter em conta o que vê e não o que está escondido. Só isso é que é importante para ele. É por isso que já tem sofrido alguns dissabores no passado. - Virou-se para Leo e insistiu. - Aprende a ver o que não se mostra, aquilo que é muito nosso e talvez assim não venhas incomodar-me com o coração destroçado. Aqui dentro, assim que entras por aquela porta, deixas de ser o homem forte e inatingível para te tornares no rapaz sensível e frágil que sempre conheci. Como eu gostaria que fosses mais vezes o que és na verdade. Mas felizmente o teu irmão Dave tem uma certa influência benéfica em ti.
- Está bem, já percebi. Mudemos de assunto. - Leo fez uma careta. - Já estou convencido que estamos perante um trio brilhante...
- Muito bem dito... Quando queres observas tudo em conjunto. Quero que o faças mais vezes. Nunca se deve julgar as aparências. As exterioridades criam, por vezes, grandes ilusões. E as ilusões só se abatem com o tempo. Pois bem... veremos como as três adoráveis donzelas se portarão daqui para a frente. Eu estarei a observá-las com toda a minha atenção. Sou eu quem as irá estudar. Apenas eu tenho conhecimentos e isenção para o fazer. - Levantou-se da cadeira e colocando a mão no ombro de Dave pediu: Amanhã, digam-lhes para virem fazer limpeza à minha cabana. Necessito conhecê-las pessoalmente e conversar um pouco. Numa simples troca de palavras um homem como eu descobre pormenores fundamentais. Agora preciso dormir, já estou velho demais para estar acordado a estas horas. Adeus. Adeus. Adeus!! Lann, antes de dormir, preciso de um daqueles teus chás. São deliciosos e durmo sempre melhor quando os bebo. Preciso de dormir muito bem esta noite...
Lann afirmou que viria o mais depressa possível e todos deixaram a cabana do sábio.

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