quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ó Destino

Ó destino bêbado que cambaleias
e crias serpenteados de caminhos para mim.
Levada em curvas e curvas cegas
gastas e vazias de uma esperança sem fim.

Ris de mim, perdida nos teus caminhos
como uma cobaia num labirinto encantador
de cantos que rasgam a pele em cada passagem
num jogo brutal e humanamente tentador.

Ó destino poeta, conta-me um segredo só nosso,
semeias, assim, palavras no meu coração
para depois queimares pedaço a pedaço
num fogo que me consome com aclamação.

Forjas divertido as minhas voltas no fogo que crias
e não me deixas forças para te gritar.
Vá, arranca tudo do peito e retira o sagrado
que ensinas em cada passo no teu desacreditar.

Ó destino cozinheiro que mexes e remexes
num imenso pote frio do quente mistério
com que cozinhas tuas fartas iguarias
servindo-me nos dias num sorriso sério.

Tens medo de rebentar com o que resta?
Ó desejas tu que resista para que te alimentes
numa gula que despeja sobras constantes
tapando-me de medo com que mentes?

Ó destino dançarino que me levas num tango,
descoberto numa música intensa que um dia aparecerá,
mas que me deixa rendida nos braços de alguém
que nem mesmo os passos reconhecerá.

Abre-te como se de uma pauta te tratasses
na tentativa de encontrar nas folhas a história
do que procuro e que me negas sem parar,
levando-me à leitura breve e inglória.

Ó destino guerreiro derruba já a muralha
para que eu no castelo desbrave demente.
Quero encontrar o meu mais secreto desejo
para o sonhar e tocar tão absurdamente.

Diz-me uma só vez ao meu ouvido surdo
por que estradas me levas a perder
para que eu recorde o cheiro da saudade dele
e jamais volte a sentir o que é o doer.

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