segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dúvida

Decido finalmente sentar-me naquela posição.
Levo a ponta dos dedos desde o inicio até ao fim de mim.
Pretendo sentir a areia que deixas dentro da minha pele.
Sou uma ampulheta nas tuas mãos, presa numa passagem infinita de um caminho sempre igual.
A minha alma está escorregadia como a areia que passa pelo estreito canal que quase a sufoca.
Quer incessantemente passar de um lado para o outro sem nunca sair do vidro a que chamo corpo.
Aprisionada, grita.
Salva-a.
Parte o vidro e leva-me para além do tudo.
Não me quero.
Não te quero.
Quero-nos!!

Mas depois nasce a dúvida.
Salta entre o lado do coração e o lado do ventre nesta ampulheta desenhada em mim.
O que fazer com a dúvida?
A dúvida se te tenho ou não?
A dúvida se te mereço ou não.
A dúvida se te quero ou não.
A dúvida se devo ter dúvida.
É como o rio de areia: sempre constante balanceando de um lado para o outro.
És uma dúvida que passa por mim e que não sei como a travar.

(resposta a um desafio com a palavra 'Dúvida'. Ilustração de Isa Silva)

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