CAPITULO 14
- Senhores, desculpem incomodar mas trago-vos uma notícia algo desagradável.
- O que se passa? - perguntou Leo..
- Dan Tolos aproxima-se de Semy.
- Raios do céu! Perdi o apetite. - exclamou Dave atirando com o prato. - Esse estupor tem o dom de aparecer nos momentos menos propícios. Pensava que estava livre de Dan por algum tempo, mas enganei-me! Porque fui eu jurar o que jurei ao meu pai?!! Irei enfrentá-lo cedo demais... Não pensei que viesse aqui tão depressa.
- Virá escolher escravos?
- Duvido, Clive.
- Temos de as esconder imediatamente. Ele não as pode ver... apesar de já saber da sua existência. Aqueles forasteiros que se passearam nos campos eram seus homens. Contaram-lhe a história das mulheres de cabelos escuros. Dan Tolos sabe da existência das estranhas e quere-as para si. Vem tentar confirmar o que ouviu dos seus guardas. Cheira-lhe a mercadoria nova e rara. Quero falar com elas imediatamente. - pediu Dave levantando-se da cadeira, no topo da mesa.
- Encontram-se a tomar banho.
- Ai sim? Então vamos lá buscá-las e levá-las para um sítio seguro. - declarou Dave a olhar para os irmãos que a sorrir, responderam afirmativamente.
- E haverá sitio seguro?
- Não compliques Leo.
E saíram.
Os passos acelerados que vincavam o chão frio de pedra mostravam bem a preocupação com que viam a visita surpresa do inimigo vizinho. Afastando quem lhes aparecia pela frente, chegaram rapidamente à sala de banhos. Mal abriram a porta, a maioria das escravas trataram de se tapar com o que arranjavam à mão. Outras, preferiram passear pela sala exibindo os seus corpos nus. Algumas, as íntimas conhecidas dos Elmer, sorriram. Mas estes sorrisos não foram retribuídos. Não estavam ali para as admirarem. Havia outros motivos para a sua presença ali. Leo e Clive ainda olharam satisfeitos enquanto que Dave observava a sala inteira, procurando-as. Não as vendo ali, começou a abrir todas as cortinas dos pequenos compartimentos onde algumas escravas tomavam o seu banho. Compreendendo a ideia de seu irmão, Clive e Leo ajudaram-no também pelo que deixaram os galanteios para mais tarde.
Descobriram onde se encontravam as três mulheres, mesmo na altura em que Muriel e Jamie iam a sair das selhas. Mal os viram, enfiaram-se novamente dentro das selhas com a água ainda com restos de espuma. Kate observou tudo muito sossegada no seu canto. Os Elmer olharam-nas curiosos e com um toque de desejo no olhar. Tinham esquecido por momentos da sua missão. Despertaram quando Lann chegou junto de todos.
- Outra vez! Isto está a tornar-se um hábito! - murmurou Jamie colocando as mãos na testa. - Já não se consegue tomar um banho sossegada neste lugar. Que hábito mais incomodativo... - continuou a resmungar por entre os dentes.
- Que desejam, senhores? - perguntou Muriel.
- Quero que saíam imediatamente daí. Dan Tolos aproxima-se de Semy e vocês têm de se esconder. - avisou Dave Egon um pouco perturbado. - Vamos!! Não pretendo que ele as veja.
Na sala, o murmúrio começou quando aquele nome se ouviu. Mas Lann rapidamente acalmou as escravas.
- Meu Deus! - exclamou Muriel.
- Dan Tolos é imprevisível e vem à vossa procura. - respondeu Dave. - Saíam daí já e façam o que lhes ordenei. Ou querem ser o seu presente de boas vindas?
- Não, senhor. - respondeu Kate.
- Depressa!
- Onde pensam esconder-nos? - perguntou Jamie admirada. Recebeu uma toalha de Lann e envolveu-se com ela, limpando-se rapidamente. - Pelo que sei, esse homem até anda nos aposentos do castelo. Não há nenhum lugar seguro como...
- SAIAM! - gritou Dave.
- Ele deve estar prestes a chegar. - disse Lann. - Não podemos perder tempo com pormenores. Depois saberão. - E entregou as roupas.
- Vistam-se e venham connosco. - ordenou o mais velho fechando as cortinas. - Vamos lá para fora. Nunca posso estar aqui muito tempo.
- Concordo plenamente! - exclamou Leo olhando para a cortina corrida.
- Lann, obriga-as a vestirem-se rápido. - pediu Dave antes de abrir a porta.
A vestirem-se depressa ao mesmo tempo que caminhavam, Muriel, Kate e Jamie juntaram-se aos irmãos no exterior da sala. Sem perda de tempo, levaram-nas para a cozinha.
As poucas pessoas que se encontravam naquele local de trabalho, olharam surpreendidas para todos. Lann explicou-lhes a situação e logo se prontificaram a ajudar as três mulheres. Dos cabelos, ainda pingavam gotas de água.
- Vão esconder-se ali junto da lenha. Aí ele não se lembrará de as procurar. - indicou Dave abrindo a porta do compartimento.
- Permanecerão aqui até alguém as avise que estarão fora de perigo. - indicou Leo um pouco nervoso.
- Se ouvirem as nossas vozes, é porque ele se dirige para aqui. Então, será a altura de se esconderem muito bem e nem sequer respirarem!! Como alguém muito bem lembrou, nenhum lugar é seguro perante o olhar de Dan Tolos. Tentem contrariar esse facto. Ele não deverá vir à cozinha, todavia, e como eu disse há pouco, ele é imprevisível. Com ele nunca nos sentimos descansados. Como sabe da vossa existência, quererá vê-las para acreditar de que é verdade o que lhe contaram. - esclareceu Dave.
- Sempre era verdade que aqueles homens eram da sua guarda... - falou Muriel.
- Sim. Confirma-se com a presença de Dan Tolos em Semy.
- Não seria melhor escondermo-nos numa casa da povoação? - sugeriu Jamie. - Certamente que não iria visitar todas as casas da cidade. E se estivesse perto, fugiríamos para outra até desistir.
- Dan Tolos nunca desiste até atingir os seus objectivos. - respondeu Leo. - Talvez seja isso que o transforma num homem poderoso e temido pelos seus súbitos...
- ... e vizinhos. - murmurou Jamie.
- Não vou castigá-la neste momento por ter dito essas palavras. - avisou Dave frente ao rosto de Jamie. - Para a próxima, não pense outras iguais porque nem a cor dos seus cabelos a salvará.
Jamie olhou-o intrigada e baixou o rosto. Mas acrescentou:
- E quem nos diz que o depósito da lenha é seguro?
- E porque é que não poderemos ficar no nosso quarto? Ele não sabe em qual estamos. - perguntou Kate.
- Chega de tanta pergunta!!! Terminou a conversa. Escondam-se.
- Adeus. - disse Clive roubando uma peça de fruta.
E os quatro saíram apressadamente.
Do meio dos escravos que se moviam pela cozinha, surgiu um já conhecido das raparigas.
- Desta vez se for necessário, eu ajudarei. Ajudarei mesmo.
- Oh! Jullien... obrigada. Espero que não seja preciso. - respondeu Jamie.
- Na verdade ele nunca veio à cozinha. - lembrou uma das cozinheiras.
- Mas pode vir hoje... - disse Kate.
- Estão tão calmas... Eu estou a tremer e não é nada comigo... - comentou uma escrava muito jovem junto do fogo.
- Estamos com medo. Tudo indica que somos muito desejadas por esse homem que todos temem. Mas vai tudo correr bem. - respondeu Muriel.
- Bem, vamos esconder-nos. - interrompeu Jamie a olhar para as escadas.
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