domingo, 15 de agosto de 2010

Semy (Capitulo 012)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010, 011)

CAPITULO 12

Passaram semanas atrás de semanas e as três amigas executavam exemplarmente as suas tarefas. Tudo que lhes era ensinado, aprendiam sem demora. Depressa, os habitantes de Semy descobriram que tinham ali novas amigas em vez do desconhecido que tanto falavam no início. Nos primeiros dias, muitos foram aqueles que iniciaram o contacto com elas. A curiosidade e interesse eram consideráveis. A origem da cor dos cabelos e olhos predominava nas perguntas. Nos simples gestos do dia a dia, Jamie, Muriel e Kate cativavam a amizade e simpatia daqueles que trabalhavam junto de si. Os dias custavam cada vez menos a passar. Já faziam parte daquela povoação. Habituaram-se aos seus costumes e leis. Tudo corria pelo melhor até... até recordarem o passado. Aí, a melancolia tomava conta do rosto e coração. Quem poderia esquecer a sua terra natal?
Um dia, por altura das colheitas, quando a maioria dos escravos se encontrava nos campos a trabalhar, apareceu um grupo de seis cavaleiros. Traziam a cara tapada por elmos escuros, e todo o restante trajo seguia o mesmo tom. Os misteriosos homens rondaram demoradamente os campos de culturas em cima dos seus belos cavalos brancos e pretos. Alguns escravos começavam a inquietar-se com a presença daqueles cavaleiros.
Do meio do campo de trigo, Jamie, Muriel e Kate observavam todos os seus movimentos ao mesmo tempo que executavam o seu trabalho de recolha do cereal.
- Aqueles não vêm aqui para fazer coisa boa... - murmurou Jamie olhando-os com desconfiança. A sombra do chapéu de abas largas escondia-lhe os olhos inquiridores. Disfarçadamente, escondeu os cabelos dentro do chapéu. Aquelas criaturas não eram de Semy.
- Ai tenho a certeza de que são homens de Dan Tolos. - afirmou uma das escravas que se encontravam ao lado de Jamie.
- Porque dizes isso, Shasta? - perguntou Kate intrigada.
- Vestidos daquela maneira... são seguramente de Nastro.
- E trazem a cara tapada, é porque não querem ser reconhecidos. - acrescentou Muriel colocando a trança dentro do chapéu redondo que trazia na cabeça.
- É habitual visitarem Semy deste modo? - perguntou Jamie.
- Raro, muito raro. Mas já o fizeram em tempos sim...
- E se fossemos avisar os Elmer? Não será melhor?
- Boa ideia, Muriel! Eu não quero ser apanhada por eles. E não está aqui ninguém para nos defender.
- Temos de arranjar maneira de os avisarmos, de pedir ajuda. - declarou Jamie a olhar para a distância a que estavam da povoação. Olhou para Muriel e disse: - Tu que corres muito rápido vais ao castelo avisá-los enquanto que os despisto para uma outra direcção de modo a não te verem. Usa a vegetação para te esconderes até estares numa distância segura e depois corres o mais depressa que conseguires. Concordas?
- Sim! A distância não é muito grande.
- Ai meninas isso é muito arriscado!
- Pode resultar Kate. Não sejas medricas!! Boa sorte, Jamie.
- Boa sorte para ti. Vai depressa!
- Só espero que as minhas pernas aguentem...
- Claro que vão aguentar. Vai. Eu aparecerei na altura ideal. - E piscou o olho num sorriso.
- Tem cuidado. Eles poderão fazer qualquer coisa de desagradável. - avisou um escravo de pele e cabelos claros que se encontrava perto e que escutou toda a conversa. - Jamie, achas que precisas da minha ajuda? Vais tu numa direcção e eu noutra? Para eles terem duas frentes de atenção e nem sequer olharem em direcção a Semy?
- Boa ideia, Jullien. Vamos fazer isso mesmo. Eu vou para a direita e tu para a esquerda. Agora, vocês, continuem a trabalhar como se de nada se tratasse. Vamos esconder-nos no trigo. Kate... devagar, vem para o meu lugar. - E olhou uma última vez daquele lugar para os misteriosos cavaleiros. Apertou melhor o chapéu e desapareceu no meio das espigas que se agitavam com o vento suave que passava no local.
Agora, o campo de trigo continha três escravos escondidos com uma missão. Muriel avançava o mais depressa que podia; numa outra direcção e Jamie e Jullien rastejavam sem deixar de observar os seis homens.
Os cavaleiros continuavam a molestar as escravas e a admirar os campos em cima dos seus cavalos. Alguns mexiam nos cavalos de modo aos cestos, já cheios, tombarem no chão. Algumas gargalhadas ouviam-se bem altas. Quando se viraram para a direcção onde ia Muriel, Jamie surgiu do campo de trigo e puxou fortemente a perna de um, atirando-o para o chão. Mal o viu estendido na terra, começou a correr no sentido contrário ao de onde se encontrava a amiga.
O resto do grupo vendo o que a mulher tinha feito a um dos seus membros, iniciou uma cavalgada em sua direcção. Jullien surgiu e conseguiu atirar um deles para o chão. Jamie corria através do trigo o mais depressa que as pernas permitiam. As pontas da saia presas no cinto, deixavam o caminho livre para os passos maiores e certeiros. Em ziguezague, fugia da perseguição dos cavalos levando-os quase a chocarem entre si. Do outro lado, Jullien, repetia a estratégia mas foi imobilizado por dois cavaleiros que o prenderam no chão. Os restantes escravos assistiam a tudo com medo.
Quando Muriel viu por entre o trigo que os seus amigos já lhe tinham deixado o caminho livre, levantou-se e correu velozmente para o castelo. Jamie corria, saltava e fugia dos dois cavaleiros restantes quando a deslocação do ar arrancou o chapéu que caiu sobre as costas. Tentou segurá-lo mas não conseguiu. O que não queria que acontecesse acabou por se concretizar: os cabelos castanhos-escuros esvoaçaram ao vento.
Um dos cavaleiros apanhou-a de surpresa, desmontou e conseguiu agarrá-la pela cintura e boca. Jamie não ficou quieta, tentava livrar-se dele dando-lhe pontapés e cotoveladas. Mas de nada servia porque ele só a apertava mais e quase já não respirava. Vendo que não poderia competir com a força do seu captor, a jovem mulher desistiu de bater. Jullien, olhou para a amiga e esperou o pior. Com um punhal a tocar-lhe bem nas costas, pedia que a ajuda chegasse depressa.
- Calma, mulher!!! PÁRA!!! Senão desfaço-te já aqui!!! - ordenou o cavaleiro junto ao ouvido de Jamie. - Porque é que fizeste aquilo ao meu amigo? Hem? Responde! - E apertou-a ainda mais ao que Jamie respondeu com uma expressão de dor. - Responde, cabra!
- Não sei! - gritou quando ele aliviou o braço à volta do pescoço. - Porque me apeteceu! - Ao sentir novamente o apertar do braço e o respirar furioso junto ao ouvido, acrescentou: - Talvez porque são estranhos e nós aqui não gostamos de pessoas estranhas. E além disso, estão em propriedade privada...
- ... propriedade privada... Que palavras são essas?
- Não... podem estar... aqui. É melhor... abandonarem... este local... - terminou Jamie a muito custo.
- Ahhhhh!! Temos aqui uma guarda - Cheirou-a perturbantemente e disse: - Tu não és destes lados... escrava! - Ela sentia que ele observava atentamente os seus cabelos. - Hummmmm... As tuas ameaças não me afectam, escrava. - disse o forte e alto homem atirando-a para o chão.
Assim que caiu no chão, Jamie reparou, por baixo dos cavalos, que a ajuda já se aproximava. Manteve-se deitada e olhou vitoriosa para o misterioso homem de negro.
- Agora sempre quero ver a sua coragem. - desafiou, com a espada do cavaleiro apontada para a garganta.
Apercebendo-se de que se aproximava alguém, guardou a espada visivelmente contrariado. Olhou para trás e deu uma ordem com a cabeça. Subiram para os cavalos e esperaram a chegada dos Elmer e alguns guerreiros. Sentindo-se segura, Jamie levantou-se do chão. Jullien rapidamente se juntou a ela.
- O que se passa aqui? - perguntou Leo ao travar o cavalo.
- Quem são vocês? - questionou Clive. - O que querem?
Dave colocou-se ao lado do cavaleiro principal como que a provocar ainda mais a sua ira.
Os dois olharam-se em silêncio e um dos homens mais atrás respondeu:
- Calma! Não viemos fazer nada de mal. Estamos de passagem apenas...
O cavaleiro que chefiava do grupo de seis, continuava calado e sem tirar os olhos de Dave. Este por sua vez respondia de igual modo. Seguravam os cavalos que pareciam tão agitados como os seus donos.
- Estamos a visitar estas lindas terras. Lindas de verdade. - disse outro cavaleiro.
- É mentira, senhores! Estavam a molestar as escravas e atacaram-nos quando os quisemos mandar embora. - afirmou Jamie a sacudir a terra da roupa e cabelo.
- Verdade? - inquiriu Dave levantando a sua espada reluzente.
Mas o cavaleiro nada respondeu.
- Se não saírem das nossas terras a bem, sairão a mal. Desapareçam!! E não se lembrem de passar mais por aqui. E lembrem o vosso senhor disso. - avisou Leo com um ar imponente. - De outro modo, terão uma bela surpresa quando cá voltarem.
- Então? De que estão à espera? - acrescentou Clive. - Desapareçam!
O cavaleiro passou junto a Jamie e, baixando-se para que só ela ouvisse, deixou uma ameaça:
- Tu, mulher, vais pagar por isto que fizeste.
Com o coração acelerado, Jamie engoliu em seco lembrando-se de que brincar com o fogo sem maneira de o combater não era uma boa ideia. Todavia, sentia que tomara a atitude correcta.
Virou o cavalo e olhando uma vez mais para Jamie começou a cavalgar. Sem demora, o resto do grupo seguiu-o abandonando os campos de culturas em grande velocidade.
Leo e Clive desmontaram e falaram com Jamie e Jullien enquanto que mais escravos se aproximaram para ouvirem.
- Muriel ficou no castelo. Ela está bem. Estamos agradecidos por nos terem ido avisar. - disse Leo num sorriso. - Eles são homens perigosos. Teriam feito o que lhes apetecesse... como sempre. - E olhou para o irmão que se mantinha em cima do cavalo com uma expressão carregada. - Sabem que não vigiamos os nossos escravos, e então, por vezes, decidem aparecer para os atormentar.
- São de Nastro?- perguntou Jamie adivinhando a resposta.
- Certamente...
- Obrigado, Jullien. - agradeceu Clive colocando a mão no ombro do baixo escravo. - Se o teu tio sabe disto ainda te repreende. Ele não te quer perto de espadas.
- Ele não precisa saber, certo? E eu mal ajudei, fui logo apanhado. É a Jamie e Muriel que devem agradecer e não a mim.
- Eu sei. - respondeu Dave com o olhar sobre Jamie que desviou os seus olhos e colocou o chapéu de novo na cabeça. - Por hoje terminou a colheita. Venham connosco.

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