quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Semy (Capitulo 015)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010, 011, 012, 013, 014)

CAPITULO 15

- E como estão os meus amigos? - perguntou Dan Tolos quando entrou na sala principal abrindo ainda mais as portas para que a sua entrada fosse muito notada.
Dave manteve-se encostado à lareira e os restantes sentados com os pés na mesa.
Dan Tolos era da mesma altura e da mesma idade de Dave. Ombros largos, corpo atlético e uma cara de feições belas, era o que predominava numa figura que em nada fazia associar ao carácter e personalidade destruidora e maléfica que o caracterizava. A ternura e simpatia das expressões iludia qualquer um que não o conhecesse, iludia qualquer um que acreditasse numa mudança no coração sanguinário do senhor de Nastro. O seu cabelo era curto e de cor preta, uma raridade naquele mundo. Os olhos azuis turquesa não paravam quietos, observavam tudo e todos.
Retirou o manto escuro dos ombros e ficou apenas com uma camisa e umas calças largas, tal qual os Elmer. Olhou para a cadeira, sorriu e acabou por se sentar.
- Bem. - respondeu Dave sentando-se contrariado na sua cadeira.
- E tu?
- Melhor é impossível, Leo. Sinto a vida pulsar dentro de mim. Estou a sentir-me renascido! Adoro viver nestes dias.
- Também gosto de viver a estação das colheitas.
- E tu, Clive, sempre ao lado dos teus amigos... - Ajeitou-se na cadeira. - Por falar em colheitas, como vão as vossas? Eu ainda não comecei com as minhas. Dão muito trabalho... a organizar... a orientar aqueles escravos rebeldes... - inquiriu Dan olhando para Dave de soslaio.
- Um dos melhores anos. - respondeu Clive.
- Mas isso... já tu sabias.
- Já sabia? Não entendo onde queres chegar, Dave?
- Porque enviaste aqueles homens aos nossos campos? - acusou Leo batendo com o copo na mesa.
- Eu?! Não fiz tal coisa. Porque o faria? Qual é o meu interesse em enviar homens da minha guarda observar as vossas colheitas? Não preciso disso... Não necessito de vocês para aprender como se lida com a terra... como se lida com escravossssssss...
- Talvez até tenhas vindo tu próprio a chefiá-los...
- Esse teu ar de menino que se julga dono de tudo não me intimida, Dave. E como estou muito bem disposto, vou responder-te: eu não saí do meu castelo. Asseguro-te de que não mandei nenhum dos meus guardas a Semy. Não me daria a tal trabalho. Gosto de poupar os meus cavalos de tarefas medíocres.
Os olhos de Dave já lutavam com os de Dan, mas tentava manter a calma.
- Nem mesmo para verem escravos discretamente? - inquiriu Clive.
Pegou numa uva e numa calma sem suspeitas brincou com ela e respondeu:
- Não.
- Esqueçamos o assunto.
- Acho melhor, Leo. Eu vim em paz. Não quero arranjar conflitos convosco, meus adoráveis vizinhos. - E suspirou.
- Vinho? - ofereceu Leo.
- Sim, sim. A esta hora sabe sempre bem. - Levantou-se e colocando-se em pose com a mão no cabo da espada à cintura, perguntou entre golos do vinho: - Quando é que os formosos Elmer decidem dar a Semy um herdeiro?
- Quando calhar... Mas sempre rodeados de muitas mulheres... - respondeu Leo com um sorriso.
- Muito bem! Tens vindo a aprender com o teu feiticeiro louco, é? Pois eu só pretendo ter um filho da mulher que me agradar completamente. E isso até agora ainda não aconteceu. - Levantando o olhar para o tecto da sala acrescentou levantando a voz - Porém... já tenho uma em vista.
- Óptimo para ti, Dan. Espero ser convidado para o casamento. - declarou Dave com ironia.
Dan Tolos riu com as últimas palavras de Dave.
- Certamente, certamente. Como poderia eu deixar de parte tão ilustre figura do nosso país? Jamais!! Farei a cerimónia em tua honra. Até porque possivelmente irás gostar de assistir, dar a bênção à noiva...
Dave olhou-o sério e Dan Tolos por entre um sorriso vitorioso, perguntou:
- Têm escravos novos? - E bebeu o resto do vinho. - Estou apenas curioso. Fiquem descansados que hoje não venho cá para comprar escravos. A visita é só para vos rever. Mas quero saber para depois fazer as minhas contas. Apesar de ser mais rico, perdoem-me, tão rico como vocês, gosto muito de evitar que as moedas saiam das minhas arcas.
- Nada de novo. É incrível que depois de teres levado vinte escravos há quatro meses, já necessites de mais. Não serás demasiado severo para com eles?
- Meu caro Leo, não tens nada a ver com a minha maneira de tratar os meus escravos. Limita-te a vendê-los e a tratar da reprodução de melhores exemplares.
- E tu tratas de os eliminar rapidamente nessa tua insaciável necessidade de novidades...
Dan, visivelmente irritado, respirou fundo e respondeu a Clive:
- Sabem que detesto monotonia e vocês adoram moedas. - Aproximou-se de Dave e olhando-o nos olhos num claro desafio perguntou: - Será que eu poderia dar uma vista de olhos pelo castelo?... Isto é, para ir vendo mais ou menos o que dispõem. Não quero incomodar, mas gostava... Enche-me a alma...
Dave fez silêncio. Controlando a sua raiva e desviando-se, respondeu:
- À vontade. Nós acompanhamos-te.
- São tão simpáticos comigo. Tratam-me com tantos carinhos. Qualquer dia virei viver para Semy.
- E eu vou para Nastro. Pode ser que faça desaparecer a morte que existe por lá. - replicou Dave ao abrir a porta.
- Ahhh adoro o teu humor!!!

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