segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Semy (Capitulo 017)

(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010, 011, 012, 013, 014, 015, 016)

CAPITULO 17

- Esta foi a última vez que vieste ao nosso castelo! - afirmou Dave quando já se encontravam na entrada da torre. - DESAPARECE! - A sua fúria surpreendeu todos. - Nunca mais quero ver a tua cara à minha frente, Dan Tolos. Chegaste ao limite da minha tolerância. DESAPARECE!
- Já te apercebeste bem do que acabaste de fazer?
- Não tenho medo de ti, pulha!!
- Tu... tu ainda vais sofrer por me teres feito isto... amigo! - respondeu Tolos com igual intensidade ao sair para o pátio do castelo. Colocou a capa e montou para o cavalo. - Também a minha tolerância terminou, Dave Elmer. Irás sentir na pele o meu terror... a minha vingança... o meu desprezo de anos! Fixa bem estas palavras: terror, vingança, desprezo. Será que saberás lidar com o poder dos Senhores do Além Real? Quebraste uma jura sagrada...
- Não tenho medo das tuas ameaças. Finalmente, não receio as ameaças saídas de uma mente louca e demoníaca que só espalha desgraça à sua volta. Nunca deverias ter nascido!!
- Sabes bem quem tem a culpa... E fazes tudo isto por uma mulher??
- DESAPARECE!!!!!!!!!!!
- Hoje, desapareço. Mas prepara-te que os teus dias de calma terminaram. - Dan Tolos virava o cavalo de um lado para o outro num desassossego igual ao que lhe passava na mente. O seu ódio era tal que o cavalo parecia ser o alvo de todo aquele sentimento intenso. Olhou bem nos olhos de Dave e num sorriso que demonstrava bem o que sentia, acrescentou: - Ela deve ser um paraíso, não?! Nunca te vi assim, Dave Elmer. Estás finalmente enfeitiçado por uma mulher! Mas... eu também!!
- Desaparece! Nenhuma mulher é capaz de me dominar!
- Ah Ah Ah como se eu acreditasse! Não negues. Nós somos feitos da mesma paixão, da mesma garra...
- Não me compares com o demónio.
- Conhecemo-nos bem demais para conseguir omitir o que nos vai pela cabeça, o que nos vem do coração...
- Desaparece!
- ... temos o mesmo sangue a correr nas veias...
- CALA-TE!!
Leo e Clive trocaram olhares curiosos mas não era altura de perguntar nada.
- ... e apaixonámo-nos perdidamente pela mesma mulher...
- SAI!!!!!!!
- ... estás enfeitiçado pela dama de cabelos pretos... iguais aos meus...
Dave pegou da espada e tentou aproximar-se de Dan. - Queres que eu te expulse à força? Larga-me, Leo! Deixa-me acabar com esta peste que nos tortura há anos!!!
- Nunca. Nunca te livrarás de mim. Eu também quero aquela escrava. E um dia, ela irá ser MINHA!
Com ódio e amor no seu coração, Dan Tolos desapareceu com dois dos seus guardas. As suas gargalhadas ouviram-se durante um longo tempo. Era um aviso para os Elmer.
Algumas pessoas tinham assistido aquela troca de palavras e, agora, comentavam entre si o significado de todas as ameaças lançadas entre os dois senhores dominadores. O murmúrio aumentava à medida que as gargalhadas de Tolos desapareciam. O pátio tornou-se vivo e cheio de receio numa noite que alguns gostariam de esquecer. Não existia na memória do povo de Semy uma lembrança de um confronto tão vigoroso e potente entre Dave Elmer e Dan Tolos. Era como se as forças de ambos finalmente demonstrassem o que sentiam no íntimo: um ódio de anos de um passado recente.
Furioso Dave gritou:
- O que fazem aqui?!!!! Vá desapareçam... - E atirou com a espada que se espetou na porta de entrada do castelo. Dave entrou tresloucado pela torre dentro.
..Ao escutar o que Dan e Dave haviam proferido, Wise Sage abandonou a sua cabana. Em passos lentos surgiu do meio dos escravos que dispersaram e aproximou-se de Leo e Clive que ainda se encontravam parados nos degraus da entrada da torre de menagem. Vendo o ar preocupado do velho senhor, Leo falou:
- Wise, ajude-me. Estou perdido no que ouvi aqui...
- Calma. E tens toda a razão para isso. Todos nós estamos apreensivos. Venham comigo. Precisamos acalmar Dave. Mas, meus amigos expliquem-me o que aconteceu dentro do castelo...
Pelo caminho, Wise Sage ficou a saber o sucedido.
Chegaram à na sala principal e viram Dave a beber sem parar. Wise Sage aproximou-se dele e devagar retirou-lhe o copo da mão.
- Foi de muito azar ter ido com os seus homens aos campos quando elas se encontravam lá a trabalhar. - Desviou o jarro de vinho. - Mas mais cedo ou mais tarde ele iria saber da existência delas. - E sentou-se sem parar de olhar para um Dave devastado - É uma brincadeira que o destino parece apreciar cada momento. O instinto puxou-o para o centro dos nossos receios. O mal já está feito. Já não poderemos ocultar a existência das três estranhas em Semy. Agora temos de estar constantemente alertas. Durante uns dias não saberemos nada dele, mas depois certamente aparecerá para provocar distúrbios. Arranjou um motivo para liquidar Semy e, vocês, os seus maiores inimigos. Não sei como conseguiram aguentar tantas provocações durante estes anos. Desde que saíram as primeiras palavras da boca de Dave e Dan que fomentam uma rivalidade com sérias consequências no futuro, um futuro que suspeito muito próximo.
- Já deveria ter feito isto muito mais cedo. Evitaria muitos dissabores...
- Parece uma questão fácil mas não o é. Infelizmente nunca se conseguiu cortar esse ódio desde o início, desde o nascimento de vocês os dois. Quem adivinharia que Dan Tolos se tornaria na criatura que todos conhecemos? Somente os Senhores do Além Real sabem onde o mal e o bem vive.
- Mas afinal que história é essa do mesmo sangue que ouvi lá fora?
Wise Sage olhou para Leo e depois para Dave e respondeu:
- Já não se consegue esconder, Dave. - Após uma pausa, confirmou: Dan Tolos é teu irmão, Leo.
- O quê???????
- Somente eu e Dave sabíamos. Daí a importância da jura que foi feita no leito de morte do vosso pai.
- Mas, mas como é possível?? O pai adorava a mãe!!! Ele não teve a coragem de... de...
- Acalma-te, Leo. O teu pai foi enfeitiçado pela mãe de Dan porque a rejeitou. Ela usou de feitiços proibidos mas acabou por pagar por isso. E todos nós também acabámos por pagar com o carácter com que Dan herdou.
- Não consigo acreditar...
- Não tenho palavras, mas agora percebo muitas coisas. - Comentou Clive de volta do amigo Leo.
- E com tudo isto, até se esqueceram de ir à minha cabana como eu tinha pedido.
- Pois, é verdade, esquecemos completamente. - respondeu Leo ainda surpreendido com toda a revelação. - Nem sei o que pensar... Tentámos que ele não as descobrisse e não conseguimos. Mas diga-nos Wise o que tem para nos falar? É assim tão importante? Não pode ficar para outro dia? - questionou Leo sentando-se numa ponta da mesa.
- Sei que não é a melhor altura mas tenho de falar. Mas já estão um pouco mais calmos. Mais calmo, Dave? - perguntou olhando-o com atenção.
Com a cabeça escondida nas mãos respondeu:
- Fale o que tem a falar...
- Então cá vai...

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