CAPITULO 33
Jamie deixou os dois a lutarem e conduziu os restantes ao quarto onde permaneciam as suas amigas a fim de as libertarem. Mas assim que chegaram ao corredor, repararam num grupo de guardas que se dirigiam para os aposentos de Dan Tolos. A presença dos intrusos de Semy já era do conhecimento geral. Ao encontrá-los, o confronto foi inevitável. Pairava no ar um barulho estranho que percorria todos os cantos daquele castelo. A guerra era inevitavelmente real.
Com muita rapidez e mestria na utilização das espadas, os homens de Semy afastaram os guardas que acorreram ao local. Num forte pontapé, Clive abriu a porta. Kate e Muriel encontravam-se sentadas na cama, encostadas à parede. Os rostos tristes retomaram a alegria ao vê-los. Sem demora, cortaram as cordas e retiraram os lenços. Agradecidas, abraçaram-se aos noivos e sorriram para a amiga.
- Vamos. Agora não é altura para namorarem. - afirmou Jamie ao puxar as amigas. - Temos de sair daqui!!
Com precaução, percorreram os corredores do castelo. Ao chegarem à sala onde existia a saída, depararam com um grande número de guardas. Deixando-as atrás da porta que dava para a sala, Leo, Clive e os seus homens, atacaram os muitos inimigos. As mulheres pegaram em três espadas de guardas mortos e também entraram no combate.
Foi tarefa difícil livrarem-se daqueles guerreiros. A luta estava renhida, mas ao fim de algum tempo, a vantagem dos homens de Semy começava a demonstrar-se. Os Elmer tinham perdido seis homens no combate enquanto que pelo chão ficavam espalhados muitos mortos e feridos pertencentes à guarda de Dan Tolos. O ódio e raiva de parte a parte era evidente.
Saíram do castelo e foram surpreendidos pelo espectáculo à sua frente: Todos os escravos e escravas que queriam voltar para Semy, e eram muitos, lutavam contra os guardas com as armas que arranjavam pelo caminho. Com paus, espadas, foices, lanças, punhais e objectos de barro, eliminavam pouco a pouco os seus inimigos. Leo, Clive, Jamie, Muriel, Kate e muitos outros, observaram aquelas lutas individuais durante uns segundos para depois acabarem por se juntar aos escravos amigos. Espalhados pelo pátio, os restantes homens dos irmãos Elmer lutavam com os seus mais directos opositores.
O grupo principal começou a andar pelo pátio e foi então que Kate reparou em Dave e Tolos a lutarem na torre de menagem do castelo de Nastro. Lá do alto, soavam toques violentos saídos das espadas longas e largas. Ao alertar Jamie, percebeu que esta j´qa os tinha visto.
- Estão sozinhos... Não posso ficar aqui. - disse Jamie entrando novamente no interior do castelo. - Vêm?
- O que é que vais fazer? Nós não podemos ajudar. - perguntou Muriel segurando-a.
- Eles preferem ficar sozinhos. A luta não é mais nossa.
- Aí é que te enganas. Esta luta também é minha. - afirmou Jamie prosseguindo o seu caminho.
- Espera por nós! - gritou Muriel quando já tinha desaparecido de vista.
Jamie subiu todos os degraus a grande velocidade sem nunca parar para descansar. A saia agitava-se vezes sem fim com o movimento das pernas.
A sua chegada à torre não os fez parar de lutar. Pelo contrário, estimulou-os. Quando as outras duas chegaram, a luta entre ambos era veemente. Já havia sangue a escorrer de um braço de Dan e da mão esquerda de Dave.
Dan afastou-se um pouco e olhando para Jamie provocou Dan.
- Sabes mano... temos os mesmos gostos... Amamos a mesma mulher! E sabemos bem quem é o mais forte... e esse leva o prémio!
-Cala-te! Jamie é a minha mulher!
- Não! Ainda não é...
- Tu, Dan Tolos, nunca deverias ter visto a luz do dia.
- Ohhhhhh mas que poético que ele está... - gracejou Dan dando fortes gargalhadas. Investiu com força sobre o irmão e Dave apareceu fraquejar.
- Ri... ri enquanto assistes à tua morte!
- Jamie será minha, Dave!
O som das espadas não parava de aumentar.
Um dos guardas de confiança de Dan que se encontrava no pátio, reparou na luta do seu amo e decidiu ajudá-lo. Em passos decididos e velozes entrou no castelo. Sem que ninguém se apercebesse da sua presença, o forte e pequeno guarda subiu para uma torre lateral perto do centro do castelo. Aí, preparou o arco e fez pontaria com uma seta. O seu objectivo era matar Dave Elmer. Sabia que seria recomendado se o conseguisse. Puxou a corda e logo a largou. E a seta voou livre. Porém, Jamie mudou de posição desviando-se da ponta de uma das espadas e a seta acertou-lhe no meio das costas.
Assim que sentiu a seta dentro do seu corpo soltou um forte grito de dor. Tão forte que todos que se encontravam no pátio olharam para a torre. Só nesse instante, é que os dois homens pararam de lutar. Viram uma Jamie sucumbir, cair de joelhos no chão frio e sujo. Fora de si, Dan Tolos olhou para a outra torre e viu o seu amigo a guardar o arco. Não acreditava no que tinha sucedido. Não poderia ter acontecido! "Jamie...", murmurou a largar uma lágrima. Os olhos azuis poisaram em Jamie e depois no guarda. A mão tensa, desceu até abaixo do joelho.
Dave correu rapidamente para o sítio onde Jamie se deitara de lado e abraçou-a. Aflita, Kate desceu à procura de ajuda. Pegando na mão de Jamie, Muriel chamava-a entre a ameaça de lágrimas. Jamie olhava-a sem a ver.
Quando Tolos viu que o guarda se preparava para abandonar a torre, pegou no punhal que usava no interior da bota e atirou-o com todas as suas forças. Sem esperar o gesto do seu senhor, o guarda olhou espantado para o punhal espetado no meio do peito. Andou uns metros e acabou por cair da torre. Segundos depois, já fazia parte dos cadáveres que se espalhavam pelo chão do pátio.
Vendo a sua noiva naquele estado, Dave levantou-se, pegou na espada e recomeçou a lutar com Dan Tolos, mas desta vez com muito mais veemência. Não foi necessário muito tempo para que a luta terminasse. Dan só olhava para Jamie e deixou de se proteger. Dave, num gesto rápido, espetou-lhe a espada na barriga. Todo o corpo de Tolos estremeceu. Sem piedade, Dave retirou a sua arma do interior de Dan. Este, começou a escorregar pelo muro da torre deixando uma mancha vermelha nas pedras. Apercebendo-se de que Jamie nunca seria sua e que a igualdade de forças nunca deixaria qualquer de um dos dois ganhar o combate, Dan Tolos preferiu morrer. Arriscara. Talvez se reencontrassem brevemente, num outro lugar. Brevemente... Sentia as forças de Jamie tão fracas como as suas.
- Só agora pagaste por todos os males que fizeste.
Dan não respondeu. Já não ouvia mais nada. Não queria. Toda a sua atenção estava virada para Jamie. Nada mais importava agora. Somente ela. Tolos olhou-a com os olhos a brilharem e com um sorriso nos lábios. Seria a última vez que veria o seu grande amor. Quase sem forças, Jamie também o fixava.
- Jamie... - sussurrou Dan Tolos fechando os olhos para sempre.
Dave largou a espada e abraçou-se a Jamie. Esta, olhou-o e do canto do seu olho, surgiu uma grossa lágrima. Desceu lentamente anunciando dor. E desmaiou no momento em que Leo, Clive e Kate chegaram à torre.
- Mo... morreu? - perguntou Muriel com voz trémula.
- Não. Ainda respira. Temos de a levar já para Semy. Wise Sage saberá o que fazer com ela.
- Como pôde isto acontecer? Quem a feriu???
- Levou com uma seta que era para mim... - murmurou Dave com Jamie ao colo. - A última maldade de Dan Tolos... Conseguiu atingir-me com a dor mais cruel...
Cuidadosamente, Jamie foi transportada até ao pátio do castelo. Dave olhava-a atento à espera de um sinal favorável. Nada obteve. Parecia morta. Sentiu um nó forte no coração e pediu que desimpedissem o caminho.
Os guardas de Dan Tolos tentavam perceber o que se passara no cimo da torre. Sem o seu senhor, não saberiam o que fazer. Dos guerreiros dos Elmer apenas quinze tinham morrido. Perante a notícia da morte de Dan Tolos, os seus homens renderam-se. Agora, não havia razão para prosseguirem a luta. Desorientados, poisaram as armas.
Mal chegaram com Jamie ao pátio, levantou-se um alto murmúrio. Os amigos dos Elmer observaram tudo com alguma tristeza. Muitos já conheciam o significado daquelas mulheres de cabelos escuros na vida dos senhores de Semy. Junto à entrada da torre, uma carroça esperava por eles. Dave e Leo ajudados por Muriel, colocaram Jamie sobre o pano, por cima da palha macia. Deitada de lado, Jamie encontrava-se preparada para a viagem. Todos observaram a calma com que mal vivia.
- Vive, senhor? - perguntou um dos guardas.
- Mal... - respondeu Leo.
- Porque é que não lhe tiramos a seta? Sempre ia deitada mais confortavelmente.
- Não, Kate! Perderia muito sangue. - respondeu Leo. - Tem de ir assim...
Muriel e Kate subiram para a carroça guiada por um dos guardas de Semy e nela seguiram. A pé, atrás da carroça, caminhavam os restantes guerreiros com os Elmer. No fim de tudo, os escravos que tinham escapado da luta e que queriam voltar novamente para Semy. Nem parecia que iam para um sítio melhor. A tristeza era contagiante. Compreenderam bem a importância que Jamie tinha para o principal governador da cidade.
Durante o caminho de regresso à povoação, Jamie não deu sinais de vida. Mas as amigas sabiam que vivia.
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