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CAPITULO 31
A cidade de Nastro vivia entre uma floresta e uma grande planície. E foi à floresta que o grupo de Semy chegou. Desmontaram e esconderam os cavalos numa gruta na encosta de uma das montanhas que formavam o vale, vale esse, parcialmente escondido pela vegetação. Clive e Leo conheciam bem aquele esconderijo, perfeito para os cavalos. Em garotos, era o seu sítio de refúgio. Ali, imaginavam grandes epopeias, onde, sendo os heróis, derrotavam os mais perigosos inimigos. E foi também para ali que trouxeram as primeiras conquistas femininas. Ninguém conseguiria descobrir as montadas.
Naquele local, os dois guardas vestiram-se de mulheres e prosseguiram a caminhada pela floresta.
Quando chegaram ao fim da vegetação abundante depararam com os campos de culturas de Dan Tolos. Poderia dizer-se que a sorte estava do seu lado. Espalhadas pelos campos, inúmeras carroças pareciam estrategicamente colocadas para a realização do plano de Dave. O único obstáculo aparente seria o contacto com os escravos.
Surgiu a altura das falsas mulheres entrarem em acção. Sorrateiramente e fingindo que cortavam as plantas, os dois guardas entraram nos campos e chegaram junto de um dos antigos servidores em Semy. O escravo reparou que aquelas criaturas eram desconhecidas. Sem rodeios, os guardas relataram resumidamente o que se passava. E esperaram pela reacção. Curioso e cheio de esperança por se vingar do seu amo, o homem acedeu em ajudar.
Alguns habitantes de Nastro notaram um entusiasmo raro no seu senhor temeroso. Os guardas que o tinham acompanhado até Semy rapidamente trataram de esconder o cadáver de um dos seus companheiros mortalmente ferido na cidade vizinha. A guarda na cidade tinha sido reforçada e estava em alerta. O povo sabia que algo de estranho se passava no ar. Mas o medo constante impedia perguntas e escondia olhares.
O escravo não sabia qual seria o seu papel, todavia, ofereceu-se imediatamente. Seguro na confiança daquele homem, o guarda de Semy revelou-lhe o plano. Feliz pela hipótese de voltar para a sua cidade natal, o escravo escutou com a máxima atenção. Disfarçadamente, avisou os outros escravos. Mas estes não poderiam demonstrar a sua alegria devido à vigilância de dois cavaleiros acabados de surgir nos campos. Os sorrisos e os acenos de cabeça eram os sinais de que ajudariam até ao último instante.
Ao reparar nos guerreiros negros, Dave deixou escapar o seu descontentamento.
- Aqueles homens vão atrapalhar todo o plano! - resmungou deitado por entre a vegetação. - Estava tudo a correr tão bem...
- Acalma-te. Tudo se vai resolver. São apenas dois. - disse Leo ao seu lado.
- Temos de nos livrar deles. Cada minuto que passa só me faz pensar no que estará aquela besta a fazer às nossas mulheres... a Jamie...
- Temos de esperar pelo momento certo de serem eliminados...
Apercebendo-se dos guerreiros que vigiavam o trabalho dos escravos, as duas falsas mulheres levantaram o olhar em direcção à vegetação onde se encontravam os homens de Semy. Em dois gestos, Dave indicou-lhes o que deveriam fazer.
- Espero que se despachem a eliminá-los sem serem descobertos. - declarou Leo.
- Quanto mais tempo passar, mais tempo Dan terá Jamie nas suas mãos... Que o poder dos Senhores do Céus caia sobre ele! Aquele monstro... não é meu irmão... - sussurrou sem que Leo se apercebesse.
Pouco depois, os guardas de Semy aproximaram-se dos vigilantes. Num gesto repentino, tiraram-nos dos cavalos e espetaram no peito o punhal que traziam escondido nas botas. Os corpos caíram no chão e ficaram ocultos pelo trigo abundante. Com a ajuda dos escravos, os homens de Semy retiraram a roupa oficial dos guerreiros de Dan Tolos. O mais rápido que podiam e sem que os guardas da fortaleza de Nastro notassem a falta dos cavaleiros, as falsas mulheres trouxeram os cavalos castanhos e as roupas para junto dos seus senhores e colegas.
Felicitando-os pelo sucesso da operação, Dave começou a vestir as roupas negras. Mesmo a seu lado, Leo vestia o outro trajo. Prontos para ocuparem os lugares vagos, ajeitaram os elmos.
- Vamos aparecer no meio do campo para que os guardas não dêem pela falta dos vigias. Os restantes irão rastejar escondidos pelo trigo até junto das várias carroças que estão espalhadas. Nós estaremos perto para vos cobrir e dar instruções. Clive, ficam todos ao teu comando. Guia-os bem. - explicou Dave montando num dos cavalos. A seu lado, Leo esperava pelo início da dissimulação.
Calmamente, os dois colocaram-se junto de uma das carroças e o homem encarregado da mesma sabia que uma troca tinha sido feita na identidade dos guardas. Dave indicou-lhe o que teria de fazer. Cumprindo as ordens, o escravo avisou os outros e todos começaram a apanhar o muito trigo dos campos de culturas perto dos locais onde Clive e seus homens se encontravam deitados. Sempre que completavam um fardo grande, pegavam nele e transportavam-no para os veículos de madeira. Chegava então, a altura de dois homens se esconderem por detrás do fardo enquanto que os escravos o carregavam para a carroça. Uma vez nela, escondiam-se por baixo dos vários fardos que iam surgindo. Fardo em fardo, os carros pequenos e grosseiros enchiam-se de guardas de Semy. Quando uma carroça continha dez homens, afastava-se do local e dirigia-se para o interior de Nastro.
Agradecendo aos escravos, Dave e Leo afastaram-se acompanhando a última carroça onde ia, entre outros, o seu amigo Clive. Nenhum dos guardas que se encontravam no portal da muralha se apercebeu da diferença nos seus colegas.
Depois de uma breve verificação, passaram pelo portão principal da cidade e subiram em direcção ao castelo. Sem dúvida que a guarda estava em alerta. Não seria fácil sair daqui. Teria de esperar que os restantes homens de Semy aparecessem na hora certa e com o sinal combinado.
Dave olhou para a torre principal do castelo. Era lá que Dan estaria com Jamie, Kate e Muriel. Sentia que o perigo estava com Jamie, apenas com ela. Era a sua mulher que Dan queria. Mais ninguém. Tinha de manter a calma para que o resto do plano desse certo.
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