segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Semy (Capitulo 039)


(Capítulos anteriores: 001, 002, 003, 004, 005, 006, 007, 008, 009, 010, 011, 012, 013, 014, 015, 016, 017, 018, 019, 020, 021, 022, 023, 024, 025, 026, 027, 028, 029, 030, 031, 032, 033, 034, 035, 036, 037, 038)

CAPITULO 39

  Pouco a pouco, todos tiveram conhecimento da falsa morte de Dan Tolos. A verdadeira versão nunca foi revelada. O povo pensava que o governador de Nastro tinha sido ferido mortalmente por Dave Elmer. Contudo, mais tarde, foi-lhes revelado que Dan Tolos já se encontrava praticamente curado da ferida na barriga. Assim, e mais uma vez, a preocupação e o medo tomaram conta da mente e coração de cada um dos habitantes de Semy mas muito em especial os escravos refugiados de Nastro. Estes pediam constantemente aos Elmer que não os deixassem partir de novo para aquela horrível cidade. Não queriam voltar para o inferno.
- Entristece-me todos estes pedidos. - afirmou Jamie enquanto limpava o cavalo de Dave. - Faz-me crescer uma raiva por não poder satisfazer os seus desejos. As velhas leis deste lugar... continuo sem perceber algumas coisas. Não têm lógica.
- Não podemos fazer nada... - murmurou Kate a varrer o chão naquela zona. - Não depende de nós.
- Há certas tradições deste lugar que nunca irei entender. Já tentei tocar no assunto mas Dave diz para não me preocupar. Está a dizer-me nitidamente: Não te metas no assunto porque não vais mudar nada.
- Mas é isso mesmo. Infelizmente não podemos mudar nada dessas coisas.
- Jamie! - gritou Muriel que avançava com velocidade pelo pátio. - Jamie... preciso falar contigo. Tens de ajudar-me!
- Que euforia é essa, Muriel? Calma mulher!
- Oh, Jamie... fiquei a saber que o Leo faz anos hoje!! E eu não tenho nada para lhe dar! Não sei o que fazer assim tão de repente! Queria que ele soubesse que eu...
- Não sabias em que dia era o seu aniversário?
- Não, Kate. Perguntei mais do que uma vez mas ele nunca me respondeu. Talvez não goste de o comemorar.
- Idiota!
- E então? - inquiriu Jamie que parou momentaneamente de pentear a crina do belo cavalo castanho. - Que queres que eu faça?
- Hummmm...
- Queres que lhe pergunte se é verdade? O que queres que faça? Não estou a entender o que queres.
- Não, nada disso. Queria oferecer-lhe qualquer coisa significativa, mas não sei o quê. - Levou a mão à boca e prosseguiu de testa enrugada: - Huuggg! Tenho de me sentar!
  Rapidamente, Jamie puxou um banco de madeira e ajudou Muriel a sentar-se. Levantou-lhe o rosto e ao ver a palidez, pediu:
- Kate, vai buscar um copo com água, por favor. Depressa.
- O que é?
- Depressa! Vá! Vá!
- É para já. - disse afastando-se a correr.
- Estás tão emocionada que até te sentes mal. Andas muito nervosa. Tu e a tua impetuosidade.
- Eu sei como sou mas tenho andado tão estranha. Já nem me conheço!! Não sei...
  Jamie levantou um sobrolho e perguntou:
- Mas já sentiste isto mais que uma vez?
- Não... Sim. Talvez uma vez mais. Bem... ultimamente tenho sentido muitas vezes o estômago revirado. Desde que comi aqueles frutos esquisitos fiquei assim. Estarei doente?
- Os frutos todos nós comemos. Não sou a pessoa indicada para te dar essa resposta. Pode ser uma questão nervosa ou... Lembra-te que passaram apenas algumas semanas do nosso regresso e a notícia do ressurgimento de Dan Tolos trouxe a todos nós uma carga excessiva de medo. Talvez isso seja só nervosismo e nada a ver com o que comeste há dias atrás. Abaixa-te e coloca a cabeça entre as pernas. Assim... isso mesmo! Quem deveria estar nervosa era eu e não tu.
- Eu começo a recordar tudo que passamos e fico assim.
- Dan Tolos é o meu inimigo e não vosso. Ele não vos fará mal. Estão livres de suspeitas. Dan é um assunto meu e de Dave. Nós somos os alvos dele.
- Eu sei, mas... o que queres? Sempre fui assim.
- Eu sei. Uma doida desmiolada. - respondeu Jamie rindo-se.
  Do interior da sua casa, Jullien observou Kate a correr com um copo. Parecia aflita. Deslocou-se até à outra janela e viu Muriel sentada com Jamie ajoelhada à sua volta. Olhou para o rosto dela e percebeu que se passava algo com Muriel.
  Muito ligeiro, o louro sábio saiu da sua casa e aproximou-se das jovens governantes.
- O que se passa com ela?
- Jullien! Oh! Não tenho nada. Apenas um ligeiro mau estar.
- Interessante.
- Não vejo onde está o interesse. - declarou Kate.
- Não vou ser mais uma das tuas cobaias. - ameaçou Muriel. - Nem pensar!
- Não, não, não! Longe disso! Estou preocupado não como curandeiro mas sim como amigo.
- Jullien, talvez seja melhor a observares. Não é a primeira vez que acontece. Fazes isso?
- A sério? Muito bem. É melhor ver o que se passa.
- Muito bem?! Só, muito bem? É o que tens a dizer? - resmungou Muriel. - Obrigado por tudo, mas já passou. Já estou bem. Jamie, quanto à nossa conversa de há pouco, o que é que eu lhe posso oferecer? Não me ocorre nada...
- Bem... talvez... não sei. E se fizesses um daqueles bolinhos de chocolate com recheio de noz que o Leo tanto gosta? É uma sugestão. - interveio Kate.
- Não é má ideia...
- E se lhe oferecesses algo ainda melhor? - Disse Jamie a sorrir.
- O que queres sugerir?
- Vai com o Jullien.
- Vou com o Jullien?!! O que é que ele poderá sugerir de interessante?
- Faz o que te peço, Muriel. - Jamie olhou para Jullien e este percebeu o brilho no olhar da sua amiga.
- Anda lá comigo.
- Por favor, Muriel, vai e cala-te.
- Está bem, eu vou. Chata!! - disse levantando-se do banco. - Mas por favor, não digas nada ao Leo. Não quero apoquentá-lo hoje. Ele faz anos.
- Eu sei.
- Sabias? Então porque não me disseste nada? Que rico amigo que me saíste.
- Promessas são promessas. Vamos. Querem vir?
- Tenho de terminar a preparação do Casi. Aparecerei em breve. Prometo. - respondeu Jamie encostada ao cavalo. Sorriu e acariciou o belo cavalo. Por entre os lábios que sorriam, sussurrou:
- Seria tão giro...

Sem comentários:

Enviar um comentário