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CAPITULO 39
Pouco a pouco, todos tiveram conhecimento da
falsa morte de Dan Tolos. A verdadeira versão nunca foi revelada. O povo
pensava que o governador de Nastro tinha sido ferido mortalmente por Dave
Elmer. Contudo, mais tarde, foi-lhes revelado que Dan Tolos já se encontrava
praticamente curado da ferida na barriga. Assim, e mais uma vez, a preocupação
e o medo tomaram conta da mente e coração de cada um dos habitantes de Semy mas
muito em especial os escravos refugiados de Nastro. Estes pediam constantemente
aos Elmer que não os deixassem partir de novo para aquela horrível cidade. Não
queriam voltar para o inferno.
- Entristece-me
todos estes pedidos. - afirmou Jamie enquanto limpava o cavalo de Dave. -
Faz-me crescer uma raiva por não poder satisfazer os seus desejos. As velhas
leis deste lugar... continuo sem perceber algumas coisas. Não têm lógica.
- Não podemos fazer
nada... - murmurou Kate a varrer o chão naquela zona. - Não depende de nós.
- Há certas
tradições deste lugar que nunca irei entender. Já tentei tocar no assunto mas
Dave diz para não me preocupar. Está a dizer-me nitidamente: Não te metas no
assunto porque não vais mudar nada.
- Mas é isso mesmo.
Infelizmente não podemos mudar nada dessas coisas.
- Jamie! - gritou
Muriel que avançava com velocidade pelo pátio. - Jamie... preciso falar
contigo. Tens de ajudar-me!
- Que euforia é
essa, Muriel? Calma mulher!
- Oh, Jamie...
fiquei a saber que o Leo faz anos hoje!! E eu não tenho nada para lhe dar! Não
sei o que fazer assim tão de repente! Queria que ele soubesse que eu...
- Não sabias em que
dia era o seu aniversário?
- Não, Kate.
Perguntei mais do que uma vez mas ele nunca me respondeu. Talvez não goste de o
comemorar.
- Idiota!
- E então? -
inquiriu Jamie que parou momentaneamente de pentear a crina do belo cavalo
castanho. - Que queres que eu faça?
- Hummmm...
- Queres que lhe
pergunte se é verdade? O que queres que faça? Não estou a entender o que
queres.
- Não, nada disso.
Queria oferecer-lhe qualquer coisa significativa, mas não sei o quê. - Levou a
mão à boca e prosseguiu de testa enrugada: - Huuggg! Tenho de me sentar!
Rapidamente, Jamie puxou um banco de madeira
e ajudou Muriel a sentar-se. Levantou-lhe o rosto e ao ver a palidez, pediu:
- Kate, vai buscar
um copo com água, por favor. Depressa.
- O que é?
- Depressa! Vá! Vá!
- É para já. -
disse afastando-se a correr.
- Estás tão
emocionada que até te sentes mal. Andas muito nervosa. Tu e a tua
impetuosidade.
- Eu sei como sou
mas tenho andado tão estranha. Já nem me conheço!! Não sei...
Jamie levantou um sobrolho e perguntou:
- Mas já sentiste
isto mais que uma vez?
- Não... Sim.
Talvez uma vez mais. Bem... ultimamente tenho sentido muitas vezes o estômago
revirado. Desde que comi aqueles frutos esquisitos fiquei assim. Estarei
doente?
- Os frutos todos
nós comemos. Não sou a pessoa indicada para te dar essa resposta. Pode ser uma
questão nervosa ou... Lembra-te que passaram apenas algumas semanas do nosso
regresso e a notícia do ressurgimento de Dan Tolos trouxe a todos nós uma carga
excessiva de medo. Talvez isso seja só nervosismo e nada a ver com o que
comeste há dias atrás. Abaixa-te e coloca a cabeça entre as pernas. Assim...
isso mesmo! Quem deveria estar nervosa era eu e não tu.
- Eu começo a
recordar tudo que passamos e fico assim.
- Dan Tolos é o meu
inimigo e não vosso. Ele não vos fará mal. Estão livres de suspeitas. Dan é um
assunto meu e de Dave. Nós somos os alvos dele.
- Eu sei, mas... o
que queres? Sempre fui assim.
- Eu sei. Uma doida
desmiolada. - respondeu Jamie rindo-se.
Do interior da sua casa, Jullien observou
Kate a correr com um copo. Parecia aflita. Deslocou-se até à outra janela e viu
Muriel sentada com Jamie ajoelhada à sua volta. Olhou para o rosto dela e
percebeu que se passava algo com Muriel.
Muito ligeiro, o louro sábio saiu da sua casa
e aproximou-se das jovens governantes.
- O que se passa
com ela?
- Jullien! Oh! Não
tenho nada. Apenas um ligeiro mau estar.
- Interessante.
- Não vejo onde
está o interesse. - declarou Kate.
- Não vou ser mais
uma das tuas cobaias. - ameaçou Muriel. - Nem pensar!
- Não, não, não!
Longe disso! Estou preocupado não como curandeiro mas sim como amigo.
- Jullien, talvez
seja melhor a observares. Não é a primeira vez que acontece. Fazes isso?
- A sério? Muito
bem. É melhor ver o que se passa.
- Muito bem?! Só,
muito bem? É o que tens a dizer? - resmungou Muriel. - Obrigado por tudo, mas
já passou. Já estou bem. Jamie, quanto à nossa conversa de há pouco, o que é
que eu lhe posso oferecer? Não me ocorre nada...
- Bem... talvez...
não sei. E se fizesses um daqueles bolinhos de chocolate com recheio de noz que
o Leo tanto gosta? É uma sugestão. - interveio Kate.
- Não é má ideia...
- E se lhe
oferecesses algo ainda melhor? - Disse Jamie a sorrir.
- O que queres
sugerir?
- Vai com o
Jullien.
- Vou com o
Jullien?!! O que é que ele poderá sugerir de interessante?
- Faz o que te
peço, Muriel. - Jamie olhou para Jullien e este percebeu o brilho no olhar da
sua amiga.
- Anda lá comigo.
- Por favor,
Muriel, vai e cala-te.
- Está bem, eu vou.
Chata!! - disse levantando-se do banco. - Mas por favor, não digas nada ao Leo.
Não quero apoquentá-lo hoje. Ele faz anos.
- Eu sei.
- Sabias? Então
porque não me disseste nada? Que rico amigo que me saíste.
- Promessas são
promessas. Vamos. Querem vir?
- Tenho de terminar
a preparação do Casi. Aparecerei em breve. Prometo. - respondeu Jamie encostada
ao cavalo. Sorriu e acariciou o belo cavalo. Por entre os lábios que sorriam,
sussurrou:
- Seria tão giro...
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