quarta-feira, 2 de março de 2011

Folha branca

Sinto-me uma folha branca por escrever.
Vazia de palavras,
vazia de histórias,
vazia de descobertas.
Fui parar às tuas mãos de mestre,
que um dia agarraram nesta folha esvoaçante,
sem destino,
que um dia o vento se lembrou de voltar a elevar.
Tocaste a minha folha e a ponta agarrou-te.
Escreves em mim palavras que ansiava ler.
Escreves em mim rimas dos meus versos.
Escreves em mim rugas do teu viver.
Escreves em mim os traços que nunca soubeste desenhar.
Jamais soubeste capaz de me escrever.
Até agora.
Somos descobertas numa vida repleta de esperas,
esperas do nosso tempo.
Tens a folha.
A folha com que sempre sonhaste.
Olhos nos olhos, cravamos desejos e libertamos fúrias.
Olhos nos olhos, somos mais de nós neste laço duradoiro.
Olhos nos olhos, sentimos as almas abertas num arrepio.
Olhos nos olhos, somos matéria unida que o tempo pausou.
Olhos nos olhos, sou folha branca na tua tinta de esperança.
Sou mera folha que repousa junto de um peito rico,
levantando-me nas batidas de um coração que agora se abriu.
Sou folha sem ser papel.
E tu... és poeta sem saberes escrever.
Somos terra e água.
Somos razão e sonho.
Somos tu e eu.
Somos o que a folha branca oculta.

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