sexta-feira, 4 de março de 2011

Incertezas

O que há para além de ti sem margem de horizonte,
sem o longe das minhas incertezas castas e inventadas!
Perco-me e caio e recaio em caminhos de cega fonte
onde gritam ao ouvido os murmúrios e ondas falhadas.

Sou incerteza com que visto a negra ousadia
de um dia julgar que sei tudo e que afinal só sei,
que tu, criatura que me ronda e me aperta vadia,
és cobarde, deleite, prazo dentro do tempo e feroz soberana lei.

Conseguirei amar tal pedaço de corpo que transpira vício,
puxando-me cada vez mais para a teia apertada
das incertezas do passado cravado de sacrifício?
Respiro sem suspirar e perco-me obscenamente encantada.

Leva-me e extrai as incertezas que fundam garras em mim,
e arranca beijos guardados nas profundezas
dos medos indecentes e carnais sem fim.
Atira vida, grito, atira-me certezas e não ardilezas.

Recolho-me infiel ao cuidado de não te tocar,
porque sei que me vou diminuir e esquecer.
Quero limpar esta mente da volúpia de te provocar
para que as incertezas possam voltar a me amadurecer.

Invento desculpas e vozes para me afastar da tua intensidade.
Usas e abusas em cada palavra que oiço de ti derramada.
Fecho-me louca no intervalo percorrido de vil piedade,
como quem geme tremendo a certeza amada.

4 comentários:

  1. Bacana o poema. Gostei.
    Abraço,

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  2. Faltam-me as palavras. Tenho uma certeza. És um poema, dentro dos teus poemas.

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  3. Tento ser uma boa poeta... E os meus demónios e anjos interiores ajudam-me. ?brigada pelas tuas palavras!

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