sexta-feira, 18 de junho de 2010

Arco-íris

Os pés permaneciam pousados no braço do sofá ao mesmo tempo que a cabeça dormia uma sesta descansada. As mãos sossegadas no peito, subiam e desciam no movimento do respirar tranquilo da fada.
Os caracóis dos cabelos levantaram-se repentinamente quando as batidas fortes na madeira acordaram a fada dorminhoca.
Bateu as asas, abriu a porta e encontrou uma figura rechonchuda, de cabelos compridos que faziam uma única onda e com um chapéu pontiagudo colorido. Os olhos muito pequenos brilhavam tristes.
- Boa tarde! Disseram-me que és a pessoa ideal para resolver o meu problema.
A fada sorriu e batendo as asas puxou-o pela mão encaminhando-o para dentro da sua casa.
- E no que posso eu ajudar?
A figura sorriu e foi então que mostrou os dentes cheios de cor. Porém, dos 7 dentes, apenas cinco se encontravam no lugar. Saltavam ao olhar os dois buracos vazios.
A fada levantou os sobrolhos e quando ia para falar foi interrompida.
- Eu sei que o meu sorriso agora assusta... Deixa que me apresente. Sou o Arco-Íris.
- Ohhh! - exclamou a fada levantando ainda mais os sobrolhos. - Agora recordaste-me que não te vejo no céu há muitos dias... Mas o que se passa?
O Arco-Íris baixou a cabeça e suspirou. Levantou de novo o olhar e explicou:
- Pois é verdade. Eu bem me esforço mas não consigo. - E suspirou de novo ao mesmo tempo que a ponta do chapéu murchava acompanhando a angústia do seu dono. - Desde que os dois dentes foram embora que nunca mais consegui falar com o meu amor.
- Falar? Não entendi.
- Eu sou o Arco-Íris e é nas minhas cores, com que pinto o céu, que falo com o meu amor que está longe. É assim que digo o quanto tenho saudades dela desafiando o azul do céu só para lhe mandar o meu amor.
- Então... mas não é um pote de ouro que está no fim do arco-íris?
- Nahh! Isso é lá para os reinos do norte. Aqui, o pote de ouro é o meu amor, sempre ansiosa por saber notícias minhas.
A fada sentou-se no chão e disse:
- Estou deveras baralhada.
- Eu explico melhor. Sempre que sorrio, as cores dos meus dentes elevam-se no céu e encontram o seu caminho para o meu amor levando-lhe o que tenho de mais precioso. Mas desde que a cor vermelha e a cor verde fugiram que nunca mais consegui que as cores chegassem até ela. Perdem força pelo caminho e desvanecem-se...
A fada mostrou o seu rosto triste e as asas baixaram tocando o chão.
- O vermelho e o verde fugiram porque queriam brilhar sozinhos nos céus mas ninguém lhes liga... E eu não posso continuar desdentado. Assim, deste modo, vou morrendo...
- Não pode ser! - resmungou a fada levantando-se. - Não pode ser!! O arco-íris nasce de um trabalho de equipa e não de duas cores vaidosas!! É a força da união que encanta os céus no seu arco brilhante e belo e nos maravilha a todos! Cada cor tem a sua importância mas são juntas que fazem a magia!
E a varinha mágica da Paciência começou a agitar-se no cinto da fada onde repousava. Esta, sorriu e rodopiou no ar mexendo alegremente as asas esguias.
- Precisas de ganhar novas cores mais vantajosas e amigas. Ora bem... sorri para mim por favor.
O Arco-Íris sorriu sem saber muito bem o que aquela fada algo estranha lhe iria fazer. Ela pegou na varinha e começou a tocar em cada dente: laranja, amarelo, azul, azul claro e violeta. Todavia continuavam na mesma os cinco dentes e não os sete correctos e necessários.
- Não aconteceu nada. - disse o Arco-Íris algo desapontado.
A fada pegou na sua mão e levou-o para fora da casa.
- Sorri! Vá, sorri!
O Arco-Íris, não muito convencido que resultasse, sorriu.
Um belo, completo e possante arco colorido começou a desenhar-se no céu: os sete dentes brilhavam no seu esplendor deixando todos maravilhados.
A fada piscou o olho, virou-se, guardou a varinha mágica no cinto e dando-lhe umas festas regressou a casa.
Com o reflexo das cores que reinavam no céu a entrarem pela janela, voltou à sua sesta.



(resposta a um desafio com o tema 'arco-íris')



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