sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Crónicas da Marciana: As mudanças

Uma das coisas mais complicadas com que me deparei quando cheguei a este planeta foi ter de lidar com as constantes mudanças.
Mas que mudanças?, perguntam vocês.
De tudo, basicamente. Mas a que me chocou e ainda choca - porque eu não entendo e não aprendo (e tenho a antena esquerda a concordar) - é a mudança nas pessoas.
Passo a explicar.
Nós os marcianos somos educados e criados para aceitarmos a personalidade com que nascemos e nunca mudar ao longo da vida. Devido ao uso de telepatia entre antenas, é impossível esconder algo. Podemos fazer pequenas adaptações (apertar um parafuso aqui e ali) mas nunca mudamos. Mantemo-nos fiéis à essência. Daí que primamos pela sinceridade. Somos bem mais práticos e simples. Canalizamos o que é complexo para outros sectores da vida.
Agora imaginem o que foi chegar à Terra e perceber que a sinceridade não é uma qualidade louvável e nem essencial mas sim escondível (upss! inventei uma palavra, desculpem q tenho essa mania... marcianices) pela maioria das pessoas. Ao ser algo que não se assume, é inevitável que seja o principal motor de mudanças de personalidade, infelizmente tão comum nos terráqueos.
Já perceberam que não estou a falar de boas mudanças mas de más mudanças...
Há quem use máscaras, que finja que é outra pessoa, contudo, ao fim de algum tempo, a máscara cai e nós, rapidamente, dizemos: 'ela(e) mudou tanto! Como é possível?'
Mas foi apenas o cair do esconderijo. Não serão estas mudanças meros esconderijos?
Quem escolhe este caminho, mais tarde ou mais cedo, acaba por perder.
Se eu juntasse todas as pessoas que já conheci numa multidão, bastantes teriam máscara.



Confesso que me entristece cada vez que descubro uma máscara.
Como detectar se uma pessoa vai mudar ou não?, perguntam-me vocês. (fazem muitas perguntas... eu sei...)
É impossível de detectar.
Mas a maneira de não sairmos tão magoados, decepcionados ou espantados com as más mudanças é não colocarmos a fasquia muito alta (expressão giríssima que vocês usam). É não ter expectativas elevadas. Não devemos colocar ninguém nas estrelas (apesar de ser um lugar lindo e falo por experiência própria do meu saltitar entre a Terra e Marte) porque para além de estarem distantes, queimam.
Devemos colocar sempre todos ao nosso mesmo nível, na terra.
Da minha já longa estadia neste planeta, devo avisar que é melhor estarem sempre preparados para mudanças porque o Ser Humano é uma criatura muito inconstante. O Ser Humano jamais sacia a sua insatisfação. Está sempre, mas sempre insatisfeito com algo e isso leva inevitavelmente a mudanças e ao uso de máscaras para dar volta a essa insatisfação.
Mas... o tempo é um óptimo seleccionador de pessoas.
Lembrem-se disso.
Não abusem de máscaras porque apesar de a vida ser um teatro, há um público que é exigente e que sabe sempre quem deve aplaudir no final.
A falta de sinceridade cria ilusões, mágoas, mentiras, vazios, confusões, perda de confiança, perda de amor... Perdas. Tanta coisa evitável, certo?
E acima de tudo, não se deve magoar ninguém egoisticamente. O ser humano não é uma criatura isolada. Precisa, em alguma altura, de alguém. E se assim age repetidamente, um dia deparará com um mundo vazio à sua volta. Mas aí, se calhar, será tarde demais para uma boa mudança.
É difícil para mim aceitar as mudanças más nas pessoas. Nós os marcianos não temos dualidades de carácter. As antenas não permitem. Ninguém engana ninguém em Marte. Não conseguimos. Não está nos nossos genes.
Humm... pensando bem... afinal acabei de perceber que enganamos sim: enganamos a NASA! Temos de o fazer para nos protegermos da evasão terráquea. Temos de nos proteger das criaturas mais complexas do sistema solar e arredores!!!
Irra! Que até à distância já nos conseguiram mudar!!!
Meus amores, ailalô!

6 comentários:

  1. Gostei ! (muito)...e não vou mudar a minha opinião sobre isto ;)

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  2. Clap, clap, clap, clap, clap, clap... (ad eternum)
    Estou a ver que me daria bem em Marte, onde parece que as pessoas são sinceras, não mostram uma coisa pela frente enquanto espetam a faca pelas costas...

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  3. Por vezes, uma máscara dá jeito para lidar com outras máscaras. Já todos as usámos, uma vez ou outra. Mas ele há quem se tenha viciado no uso e agora não a consegue tirar. Pior, talvez seja ser um Zelig.
    Abraço.
    Abraço só, não! Abraço e beijo.

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  4. Marci, Não devemos mudar-nos pk os outros agem mal...
    Não devemos deixar de confiar ou de nos entregarmos pk os outros são falsos!
    Custa, eu sei que custa!
    Não devemos, portanto, mudar para o mal,usando as tuas palavras...
    Tu és especial, nao por seres de marte mas por seres a Iva, Isa, Isaura, etc e pk és sincera, te entregas, te dás e isso faz de ti melhor que qualquer multidão com máscaras.
    Lembra-te que essas máscaras são apenas para os outros... quem as usa, em privado, não beneficia delas.... ;) e quando é k precisamos mais de nós? qd estamos sozinhos com nós proprios :)
    LOB U
    Bakuarela

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  5. "Tonta"..... Essas antenas também vão descobrindo que sempre que estamos entre mascarados podemos ser nós e as máscaras vão caindo... Já não vale a pena serem usadas.

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  6. Gui, 'brigada :-)

    Asulado, 'bora para Marte! Eu na Terra também já tenho umas quantas facas espetadas nas costas. Tive de pedir ajuda às antenas para as retirar ;-)

    jfaias, o vicio é que é terrivel e faz grandes danos ;-) Beijokas!

    Bakurela, a confiança é algo precioso e por vezes matam-na da pior maneira.
    É verdade que as máscaras são para os outros, porque quem as usa sabe bem que as usa... ;-) mas há quem já não consiga viver sem máscaras. É um vicio como disse o Faias ;-)

    Anónimo, sou tonta sou ;-) Mas tens razão quando dizes que as máscaras quando caem já não podem ser usadas. Toda a razão ;-)

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