sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Crónicas da Marciana: 3º Calhau


Uma das vistas mais fascinantes que tenho o privilégio de admirar cada vez que me aproximo da Terra, é o captar da sua beleza no espaço.
O 3º calhau a contar do sol (tirei este nome de uma série da TV baseada nuns conhecidos meus de uma outra galáxia mas isso não interessa nada para o assunto) é absolutamente deslumbrante, único de todos os planetas que conheço.
É meu hábito parar na Lua para ficar a admirar este vosso belo planeta.
E é nessas ocasiões que interrogo porque será que os seus habitantes o destroem dia após dia como se ele fosse inesgotável.
Sim, leram bem: eu disse d e s t r o e m.
O sentido de posse e egoísmo latente nos terráqueos origina uma corrida a tudo que dê poder ou ostentação e o resultado é a exploração desmedida dos recursos naturais sem respeito ao presente e muito menos ao futuro.
"Não é comigo" dizem, "Não é problema meu!" exclamam, "Isso é um exagero" inventam, "Vou fazer e isto não muda nada" resmungam, "Isto vai melhorar" pensam...
Mas nada disto é verdade.
É tudo convosco, é problema vosso, não é exagero, fazer muda sim e isto não vai melhorar.
Nas várias etapas da dita evolução humana (eu não vejo grande evolução, e tenho aqui as antenas a concordarem), os terráqueos esqueceram-se de um pormenor muito importante: não têm para onde ir quando a Terra se tornar inabitável.
Estão presos neste planeta.
P r e s o s.
A tecnologia que dominam ainda não é suficientemente poderosa para o transporte de populações pelo espaço e muito menos para a sua manutenção. Há que pensar no combustível, na alimentação, no ambiente interior e exterior, na saúde e na higiene.
Já alguém reparou que no espaço, na ausência da gravidade, não se consegue tomar banho?
Aahhh mas há Marte, dizem os cientistas e visionários (adorooooo esta vossa palavra!).
Nós os marcianos sabemos perfeitamente que o objectivo é conquistar Marte. Mas antes têm de perceber que Marte não é um planeta fácil para viver. Porque pensam que somos todos verdes? Verdes lá, claro, porque aqui sou normal, normal tirando as antenas.
É bem mais pequeno que a Terra, tem apenas 0,7% da atmosfera terrestre, tem constantes tremores de terra e para não falar na escassez de água.
Ao longo de milénios temos aprendido a viver com as condições do planeta e principalmente com os escassos recursos naturais que dispomos e isso ensinou-nos a pensar primeiro na comunidade e depois em nós como individuo uno.
É verdade. É mesmo assim que os marcianos pensam.
Conseguem ver os terráqueos a fazer o mesmo? Não? Pois não... Não conseguem.
É por isso que a nossa sociedade é tão diferente da sociedade terráquea.
O respeito pelo outro é igual ou superior ao respeito por nós próprios.
E isso origina um retorno: o equilíbrio.
Um dos nossos maiores tesouros é a água. Temo-la escondida e bem protegida.
Aqui na Terra desperdiçam, estragam e pensam que é eterna. Mas não é.
Apesar do planeta existir há milhões de anos, o Homem estragou mais num século do que em toda a sua existência como criatura pensante.
Faz-nos reflectir, certo?
Faz-nos questionar de como estará a Terra daqui a mais... cem anos.
(a olhar para as antenas) Xi! Até as antenas tremeram!
Aterrorizados?
Eu estou. E nem sou de cá...
Sentada na minha nave pousada na Lua, ou mesmo a pairar imóvel no espaço, sou inundada pela tristeza ao não entender porque fazem isto à Terra. Pergunto-me vezes sem conta porque será que os humanos são assim. Será que não percebem que estão a prejudicar-se a eles mesmos?
A luz e cor do vosso planeta é inacreditável, hipnotizante, indescritível, arrepiante e única.
Não se consegue deixar de olhar.
Cativa, seduz e conquista.
Mas não se esqueçam que afinal não passa de um calhau flutuante a girar à volta de uma estrela.
Frágil.
Indefeso.
Solitário.
Os seus habitantes não têm hipóteses de saltar para outro lugar.
É impressionante a desordem e negligência.
Vocês não são os donos do universo.
São apenas um grão num deserto rico chamado Cosmos.
Um minúsculo grão.
Meus amores, ailalô!

7 comentários:

  1. Ah, este 3º. calhau vai tornar-se leitura obrigatória para mim, enquanto me der ao trabalho de respirar.
    Belíssimo grito de alerta.

    ResponderEliminar
  2. Começo por lhe dizer que esta sua crónica é, vindo de Marciana, bastante decifrável. Li-a com prazer e avidez e apreciei muito a inteligência e sobretudo a agudeza "cínica" e metafórica que reflecte. Sublinho a referência ao nosso principal e essencial recurso, talvez o mais negligenciado, como também refere, a ÁGUA. Aprovo os seus sentimentos e a forma como satiriza as enfermidades e desvarios desta nossa estúpida civilização que ainda consegue sobreviver neste "calhau flutuante".

    Já tem dois assinantes, um Maragitado e um Marsublevado.

    Um abraço.
    JRoqueMelo

    ResponderEliminar
  3. ailalô!

    és uma exagerada, marciana, eu que sou terraquea ruiva e sem antenas diria que não vale a pena fazer nada porque se eu fizer e mais ninguém faz, de nada adianta o meu esforço e depois há aqueles que cantam e propagam que o mundo pula e avança e falam de sonhos e eu penso lá estão eles a serem como a outra das antenas, que já em pequena brincava com os planetas - diz ela, como se eu acreditasse. as pessoas a sério, têm os pés no chão, trabalham muitas horas e dão muitas consolas aos filhos para os consolar, lógico!, se nunca pensaram, que pensem para que deram esse nome aos video jogos. e agora vou-me embora que preciso trabalhar e não de viajar na maionese como a marciana. tenham um bom dia.

    ainda bem que eu não sou essa ruiva.
    ailalô!

    ResponderEliminar
  4. Ainda que um grãozinho, se cada um fizer a sua parte, talvez ainda possamos salvar o universo que é de todos, o '3o' e 'azul' calhau composto da areia brilhante que somos! ;) obrigada Isa! É muito importante não esquecer que o devemos fazer. Ou, como alguém disse: A nossa CASA deixará de nos albergar, irá com ela toda a beleza...

    ResponderEliminar
  5. JRoque, os seres humanos fascinam-me precisamente pela capacidade de adaptação ;-)

    Ana, ai ruiva para cá e para lá que até ontem pensaram que eu era francesa!! lolololollololol

    Amdreia, gostei da última frase ;)

    'brigada aos 3 pelas vossas palavras :-)

    ResponderEliminar
  6. I'm pretty sure I'm connected to Mars :-)

    ResponderEliminar