quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O dia em que roubaram a Lua

Amanyes acordou de repente da cama com o bater forte na porta de sua casa se tal modo que bateu no tecto com o salto. A resmungar e a massajar a cabeça, abriu a porta:
- Mas isto são maneiras de acordar alguém??
Uma pequenita fada, com uma expressão aflita, bateu muito as asas ao ver a cara com que foi recebida.
- Ai Amanyes andas muito mal disposta!
- Pudera!! A varinha não funciona e sou acordada a meio da noite aos gritos!! Que queres tu afinal?
- Anda cá!! - e puxando-a pelo cinto dos calções, a pequena fada levou-a até meio da rua. Apontando para o céu disse:
- Vê!
Amanyes olhou para o céu e viu as estrelas. Com visível irritação disse:
- São estrelas... e eu conheço muito bem as estrelas. Vejo-as todas as noites e não é motivo para me acordarem aos gritos!
- Não é isso! Olha melhor! Roubaram a Lua!
- Hum? - murmurou levantando o sobrolho.
Espreitou para o céu. Ainda sem acreditar, avançou para o meio da rua e rodou à procura de sinais da Lua.
- Não há Lua, já te disse, Amanyes! A Lua foi roubada. Tu tens de ajudar a encontrá-la. Tu e a tua varinha da Paciência.
- Oh raios que isto é grave...
Amanyes suspirou e a agitar as asas voou a caminho do céu.
Rodopiou, olhou em volta, observou de pernas para o ar, levantou a saia das estrelas, sacudiu os anéis de Saturno, resmungou com um meteorito distraído, espiou no rodopio de Júpiter e nada de Lua.
Foi mais longe e espreitou para dentro de um buraco negro. E este num valente espirro deixou-a zonza com os gases. Agitou a cabeça e asas e apanhou boleia de um cometa mas nenhum sinal da Lua desaparecida.
Triste por não saber onde procurar mais e por perceber que falhara na sua missão, a fada encaminhou-se novamente para terra. E foi quando reparou num rasto de pedras luminosas. Intrigada, aproximou-se devagar e a flutuar no ar, seguiu o rasto. Pegou num dos pedaços e ao levantá-lo no ar apercebeu-se de que se tratava de um bocado da Lua.
Espantada levantou os sobrolhos e continuou a seguir as pedras que luziam na noite. Foi juntando tudo num saco até que ouviu uns estranhos gemidos de dor.
Afastou a vegetação e viu um grande duende deitado de barriga para cima. A sua barriga estava enorme que até tocava na ponta torcida do nariz.
- Ai... ui... ui... ai... - gemia o duende agarrado à barriga.
Amanyes percebeu que o rasto das pedras da Lua terminava junto dele. As fartas sobrancelhas subiam e desciam à medida que o duende gemia cada vez mais.
- O que fizeste tu para estares assim? - perguntou a fada quando pousou à frente daquela criatura aflita.
O duende abriu um olho e resmungou:
- Não tens nada que saber. Vai-te embora ó fada metediça. Não te quero aqui! ai... ui...
Amanyes, colocou as mãos na cintura e respondeu com um ar nada satisfeito:
- Onde colocaste a Lua que roubaste?
- Eu??? Eu não roubei nada! Ai... ui... uiiiiiii...
A varinha mágica da fada começou a agitar-se no seu poiso, no cinto dos calções. De repente, puxou-a até um grande saco preto que o duende insistia em esconder atrás de uma árvore. Devagar e a ouvir os resmungos possíveis do duende entre gemidos de dor, abriu o saco.
A forma e a luz não deixaram dúvidas: tinha encontrado a Lua. Mas esta estava muito fraca e cheia de dentadas.
- Mas o que foste tu fazer à Lua?????
- Disseram-me que ela... ai... ui... sabia a queijo e a algodão doce... e nunca tinha comido isso... e...
- E por isso roubaste a Lua??
- Quero-a só para mim! ui... aiiiii... É muito saborosa!! É minha! É minha e só minha!
- Mas que egoísta que tu me saíste! A Lua não é para comer é para estar no céu a fazer-nos companhia!! A Lua é de todos. Até as estrelas perderam o brilho.
- Não!! Agora é minha! aiii ai... E ainda por cima... não pára de crescer... Eu é que... ui... ai... não tenho barriga para conseguir... comer tudo... Eu trinco e ela cresce passado uns dias... ai... ui... Estou tão cheio!... Mas quero mais!
- Vou devolver a Lua ao céu já! Olha para ela... tão angustiada. Dá-me um aperto no coração.
- Não vais, NÃO!! ELA É MINHA! - gritou o duende atirando-se para cima do saco.
Depois de horas de negociação, Amanyes empurrou com toda a força a Lua de volta ao seu lugar no céu. Ajeitou a posição ao inclinar ligeiramente, limpou os restos soltos mas não conseguiu disfarçar as dentadas bem marcadas do duende.
Mas ao ver o sorriso de felicidade da Lua regressou a casa porque sabia que ela iria tratar bem do assunto.
E afinal que acordo fez a fada com o guloso do duende para que a Lua voltasse ao seu lugar?, perguntam vocês.
Pois bem...
Ele podia fazer uma coisa com a promessa de que jamais a voltaria a roubar.
Desde então, sempre que todos olham para o céu e vêem a Lua num C ou num D já sabem que o duende andou a satisfazer o seu apetite deixando-a com a marca das suas dentadas.

5 comentários:

  1. De quando em vez também a "mordisco"...

    Gostei deste lado oculto...

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  2. Ai, Amanyes!
    É preciso muita Paciência!
    Há para aí tantos duendes do Egoísmo!

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  3. Olá Poetik :-) 'brigada pelas tuas palavras.

    Manuel, é preciso ter muita paciência para lidar com o egoísmo galopante dos dias de hoje ;-) Beijokas e 'brigada pelo comentário!

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  4. Ah,este duende!Querer a lua só pra ele!
    Eu bem que desejava uma só pra mim também!
    Querida Isa,
    seu duende e sua fada ensinam-nos sobre o egoísmo, a falta, as promessas...
    Às vezes, eu tenho de sorrir para algumas promessas... As não cumpridas!
    Meu carinho pra você!

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  5. Ahhh Rita, mas com paciência a fada lá conseguiu algo lololol. Eu tb detesto promessas não cumpridas. Tou cheia delas!! Beijokas e 'brigada pelo comentário :-)

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