terça-feira, 10 de agosto de 2010

A Lua espreita

Sentada à janela aproveito a luz da Lua.
Escrevinho, escrevo um pouco para ele.
Curiosa, a Lua espreita por cima do meu ombro.
Desvio-me para não revelar o meu segredo. Não quero que saiba o que escrevo.
Mexeu-se e agora está mesmo por cima de mim.
Sinto os seus olhos inquiridores mas escondo os papéis.
E desvio-me.
Parece o jogo do gato e do rato.
Ela tenta de novo e eu escondo.
Move-se e não consegue impedir-me de escrever cada vez mais.
É para ele. Como posso parar? Nunca!
E a Lua, já zangada, puxa-me o cabelo.
E eu tapo os papéis e resmungo com ela.
Amuada, a Lua desvia-se um pouco e eu aproveito a pausa e escrevinho mais versos para ele e sorrio.
Ela aproxima-se uma vez mais e espreita por cima do meu outro ombro.
Cheia de vontade de ler e saber.
Termino e deixo-a descobrir o que tenho naqueles papéis.
Concentrada, lê.
Mas não acredita no que lê.
Mesmo assim, e no meio do espanto, sorri.
Não acredita no segredo.
E satisfeita volta para o céu.
É hora de eu dormir.
Poso os papéis na janela e deixo que a Lua faça o seu trabalho.
E ela, semicerra os olhos e sopra.
E os papéis voam num vento que sabe bem o seu destino.
As estrelas iluminam e encaminham-nos.
Um a um, pousam na tua janela.
Devagar, flutuam até ti invisíveis e, então, transformam-se.
Acordado, na noite serena, sentes os meus beijos.
Sentes os beijos que escrevi para ti.
Sorris, espreitando a Lua, a mesma Lua que curiosa quis saber quem tu eras.
Pisca-te o olho e protege-te na noite, na tua noite que é o meu dia.
Missão cumprida.


2 comentários:

  1. Adoro este poema. Gosto de poemas que útilizam o simbólico... não tenho mais palavras... não quero matar o poema.

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