quarta-feira, 30 de junho de 2010

Embalo

Não são palavras apenas aquelas que digo
são retratos do que sou e quero ser,
nascentes rebeldes que nascem em mim
e que são meros desejos de te ter.

Grito e sacudo-me devagar
na esperança de te consumir desalmadamente
como quem não consegue respirar
mantendo-me imóvel para saciar a desumana mente.

Pairo surda dos teus toques,
cega das tuas palavras,
desenrolando papeis vazios
na pele sulcada de mim que lentamente lavras.

Embalo o silêncio e a multidão,
numa teia rígida em que o teu suspiro,
desliza no centro do meu monte mais secreto
transbordando num fogo em que me inspiro.

Deixo-te penetrar por mim adentro
e afasto-me vendo-nos colados e irados,
não quero acreditar na ardente verdade
dos jogos em que perdidos estamos conjugados.

Sou igual ao sorriso com que te beijo
colado nos meus lábios que acesos choram,
vermelhos vivos porque os mordeste
nos laços que se afundam e enamoram.

Devolve-me o meu desespero pela tua ausência,
não a queiras somente para teu sofrer,
porque é minha enquanto não te entregas
na corrida dos desejos sonhados a percorrer.

Pacífica, rebento em ira por não te tocar,
revolta num turbilhão a que me arrastas perdida
e calada grito e fustigo o vento
que te entrega os meus restos já rendida.

2 comentários:

  1. Não me constava que o Luiz Vaz
    o de Camões
    tivesse deixado umas sementitas do seu estilo lá por Marte! :-)

    "...calada grito e fustigo o vento
    que te entrega os meus restos já rendida"

    Transbordas o fogo em que te inpiras!

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  2. ... bem... fiquei sem palavras com este comentário. Até corei! :-) Uma beijoka. Bem haja!

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