segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Água

Chovia tanto naquela manhã que só me apeteceu ficar a vê-la cair pela janela. Navegava nos meus pensamentos quando te senti junto de mim.
Olhaste-me e desviaste o olhar para as gotas que caiam sem parar numa chuva forte e copiosa.
Nada dissemos.
Porém, a certa altura, senti o teu olhar cravado em mim e percebi que imaginavas algo.
Deixaste descair a tua mão pelo meu braço e chegaste à minha mão que a puxaste para ti.
Sussurraste-me algo ao ouvido que só consegui perceber: '... quieta'.
Abriste a janela e esticaste a mão guardando cada gota de água na tua mão.
Devagar, começaste a deixar cair pingas sobre a minha blusa de cavas.
Abri mais os olhos sem perceber o que querias fazer.
Tornaste a esticar a mão e recolheste mais e mais água até encharcares todo o tecido.
Estavas deliciado a ver o que querias ver, o que estava despido por baixo dela.
Mordiscando-me a orelha retiras-me a blusa e estendes novamente a mão.
Demoras e não tiras os teus olhos dos meus.
Levantas a mão e deixas, pingo a pingo, cair a água sobre a minha pele.
Segues com o olhar o caminho desenhado pela gota contornando o cume do meu seio. Deixas cair outra e outra gota.
Acaricias-me com a água e eu deixo, mantendo-me imóvel.
Pegas no meu pescoço e encostas-me à janela e, segurando-me na cabeça, deixas que a chuva me toque.
Ciumento, desenhas com a ponta do dedo o escorregar da água na pele.
Fecho os olhos e sinto o frio da água e o quente de ti.
Retiras-me da chuva, levas-me novamente para dentro e deitas as últimas gotas nos lábios que ansiosamente te apressas em beijar.
E naquela água fizemos a nossa chuva...


(resposta a um desafio com a palavra 'água')

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