segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Coração de Areia

Baloiço em cima de um rochedo que construíste,
misto de esperança e mistério fugaz.
Açoitas-me com a tua fuga silenciosa
e sou acordada de um sonho que nunca julguei capaz.

Meu corpo frágil e inerme refila
perante arma tão cortante e traiçoeira.
É raiva que nasce em mim e que me defende
como que perdida nesta tua repentina ratoeira.

Equilibro-me e cedo e não sei onde caio,
abismo escuro e brilhante que me ofusca.
Agarro-me ao nada e sinto o todo,
o todo que necessito para não perder a busca.

O meu coração é de areia. Foi assim que o deixaste.
Sopraste e ele, desfeito, foi apanhado pelo ar agitado e imenso.
Agora sou de todos e não sou de ninguém.
Cravo as mãos na terra para moldar de novo o que jaz suspenso.

Renasço enraizada por um campo de raiva.
Abro os braços e pelo vento deixo-me levar.
Um dia sepultarei os restos imundos de me criaste
e deles parirei um amor que jamais conseguirei julgar.


(a banda sonora deste poema é esta linda melodia
que mostro no video e pela qual me apaixonei)

Cuore di Sabbia, de Pasquale Catalano

4 comentários:

  1. A musica é maravilhosa, assim como o poema.
    Abracito

    ResponderEliminar
  2. Gostei mesmo muito. Se soubesse, teria escrito o mesmo, meu coração já é de areia, por vezes leva umas pázadas de cimento, de fraca qualidade :)Muito bem me senti a ler e a ouvir. Bj

    ResponderEliminar
  3. O problema está sempre na qualidade do cimento que nos dão que é fraca ;-) 'Brigada pelas tuas palavras!

    ResponderEliminar