Os pés avançam devagar como que cansados e acompanham o guinchar de uma das rodas daquele carinho que transporta a carga. No meio do silêncio da sala do arquivo aquele som parece um martelar.
Com ar cansado e velho, aquele homem empurra o carrinho sem olhar para as gavetas. É como se já as conhecesse bem demais.
E conhece.
Passa pela gaveta da Alegria e não mostra qualquer sinal de parar. Logo a seguir encontra a da Felicidade mas essa está perra e é pouco usada. Do seu lado esquerdo aparece a gaveta da Tristeza e aquele homem idoso e cansado olha de lado. Mas ainda não é aquela.
Continua a empurrar o carrinho que guincha.
Ultrapassa a do Amor e pára. Leva lá os dedos mas, fazendo o sinal de Não com a cabeça, retoma o empurrar e avança.
Quase no final do corredor, o silêncio apareceu com o parar do carrinho. Em nítida dificuldade, o velhote pega na carga, abre a enorme gaveta e deposita-a ali. Começa a empurrar mas a gaveta mal se mexe. Usa, então, as costas para a conseguir fechar definitivamente.
Tinha de arranjar outra que aquela já estava completamente cheia.
Pegou num lenço e limpou o nome da gaveta. A humidade das lágrimas que sempre pairava por ali andava a danificar as letras.
Quando a palavra Mágoa apareceu, guardou o lenço, virou o carrinho, agora vazio, e abandonou aquela sala.
Carimbou um papel e enviou-me, indo descansar.
Abri os olhos e aceitei a decisão.
Foste arquivado definitivamente na sala mais abandonada da minha mente.
terça-feira, 25 de maio de 2010
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