quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A lareira

Olhei para a janela e reparei que a chuva não parava.
Vejo-te chegar à sala e baixo o rosto virando-o em direcção aquela luz que me aquece.
É a única luz.
Sentada junto à lareira, oiço-te encher o copo com o vinho tinto.
Aproximas-te por trás de mim e fazes aparecer o copo à minha frente tocando-me junto ao ombro.
Seguro-o e beberico um pouco enquanto te sentas ao meu lado com as pernas a tocar nas minhas costas.
Observas-me como se nunca me tivesses visto, como se descobrisses em mim o segredo daquele néctar que me depositaste nas mãos.
Beberico um pouco mais e sinto a tua mão percorrer o meu braço terminando no rebordo do copo.
Lá, molhas o dedo e chegas até ao limiar dos meus lábios.
Sinto o cheiro do vinho e sorrio. Aproximas-te e limpas o teu dedo nos teus lábios.
Agarras-me no rosto e beijas-me... puxando-me para ti.
Poiso o copo porque já nada me interessa a não ser o teu néctar.
Deitas-te e levas-me contigo.
A luz da lareira tremelica a imagem no teu olhar vidrado em mim.
Lendo os pensamentos que queres que eu descubra, sinto as tuas mãos.
Tentamos beijar-nos mas não nos beijamos porque, algures, os nossos corpos começam a beijar-se.
Trocamos olhares adivinhando o que cada um sente e cruzamos as bocas finalmente.
O fogo estala na lareira aumentando a luz e nós largamo-nos ofegando.
Surgem gotas minúsculas na nossa pele que revelam que também ardemos num fogo sem chamas.
Afagamo-nos entre sorrisos e beijos leves enquanto partilhamos néctares.
A lareira começa a parar, pedindo por mais lenha.
E nós...
paramos consumidos pelo cansaço e pelo prazer.
Rimos e deixamo-nos ficar assim, lavados no calor, um ao lado do outro.
Olhamos para aquela lareira e admiramos as imagens no dançar das chamas, as imagens que vivemos sobre aquela manta, naquela sala, naquele dia chuvoso.

2 comentários:

  1. Um post quente e delicioso... de que ano seria esse belo vinho :-)
    Adorei... venham mais.
    Bjs grandes

    Nuno

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  2. Estava inspirada... O ano era de 1966 :-)

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