quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

E se não houvesse Natal?

(a história começou com 'O livro branco' e continua para responder a um desafio proposto pelo Rui Barros com o tema 'E se não houvesse Natal?')



Levada pela sua varinha mágica da Paciência, a fada agitava os braços enquanto era puxada pelo ar.
Parou quando foi contra uma árvore em forma triangular. Atordoada com o embate, agarrou-se. Foi escorregando e largando uns uis e ais pelo caminho. Acabou por ficar pendurada de cabeça para baixo a poucos centímetros do chão.
Ainda intrigada por a varinha a ter embatido contra a árvore, abriu as asas e pousou no chão. Foi então que ouviu uma voz a dizer:
- Até que enfim! Estavas a fazer-me cócegas.
A fada rodou rapidamente à procura de alguém. Ainda a limpar os restos da caruma agarrada à sua roupa, espreitou para cima da árvore. Mas nada encontrou.
Uns olhos pequenos mas intensos apareceram no tronco.
- Ahhh... Tu és uma árvore falante. Não percebo por vim parar aqui. Ando à procura de umas palavras para um livro que encontrei. Mas a minha varinha enganou-se de certeza.
- A que livro te referes?
- Não conheces. É um livro que se chama 'E se não houvesse Natal?'.
- Conheço sim. - respondeu a arvore tristemente. - Faço parte desse livro.
- Hum?? Verdade? Mas como? Tu fazes parte do Natal. Todos os anos és decorada de muitas maneiras e rodeada de prendas e famílias.
A árvore fechou os olhos e suspirou. Olhou novamente para a fada e prosseguiu.
- Mas eu não sou uma árvore qualquer. Sou a árvore da história do Natal.
- Como assim? Não entendo. - questionou a fada sentando-se.
- Tudo começou com a estrela que indicou o caminho para que os 3 Reis Magos encontrassem o menino Jesus. Essa estrela fica lá bem em cima, na minha ponta... - e a árvore inclinou-a para que a fada a visse melhor.
- Mas está vazia.
- Pois está. - disse tristemente. Suspirando, a árvore prosseguiu. - Nascia nesse dia um homem que iria mudar uma parte do Mundo, usando as suas palavras e actos. E a partir daí nasceram muitos ramos espalhando-se pelas terras, mentes e corações das pessoas. O tronco foi ficando maior e mais forte para criar mais e mais ramos. Foi crescendo, crescendo até que chegou à base enterrada na terra com raízes que a alimenta. A raiz alimenta-se de amor, solidariedade, compaixão e dádiva.
- Mas os teus ramos estão fracos, sem vida, a desaparecerem...
- Sim. É o que acontece se não houver Natal. Se a essência do Natal se perder, se ela deixar de existir, se a minha raiz deixar de ser alimentada e os ramos desaparecerem, pararei de contar histórias felizes em cada ramo e folha, deixarei de ajudar em cada ramo e folha, deixarei de dar em cada ramo e folha.
- Serias uma árvore vazia... Hum...
- O Natal não é feito de correrias ou de imposições, de chantagens ou solidão, de falta de amor ou do poder do dinheiro. O Natal é feito da maior dádiva que se pode dar: o genuíno oferecer por prazer. É uma oferta que não pensa em si mesma mas sim nos outros.
A fada ficou pensativa e sentiu a sua varinha a mexer-se novamente.
- Mas eu posso ajudar! - disse feliz e agitando as asas nervosamente.
- Como?
A fada tirou a varinha mágica da Paciência da cintura e agitando-a disse:
- Com ela vais recuperar os teus ramos e fortificar a raiz. É só preciso um pouco de tempo...
A árvore começou a vibrar e num sorriso esticou os ramos. Nas suas pontas começaram a surgir pequenas estrelas. E num instante, ficou toda iluminada por milhares de luzinhas cintilantes.
A fada olhou para o topo e lá estava a Estrela de Natal. Num grande sorriso, colocou as mãos no ar e pulou feliz mexendo as pernas.
- A tua varinha não dá só Paciência. Dá algo extra. Sabes... o Natal é partilhar, partilhar aquilo que não se compra.
- Ahhh!! - gritou a fada - Essa frase estava no fim do livro!!!!
A árvore sorriu muito e disse:
- Vá, vai a correr e leva as palavras da minha raiz para o livro. Vai!!
Satisfeita, a fada carregou nos braços todas as palavras esquecidas e abandonadas.
Regressou à biblioteca e depositou-as no livro vazio.
Nesse momento, ele mudou de título. Passou a chamar-se: Quando há Natal.
Orgulhosa, a fada saiu do corredor piscando o olho à fada anciã. Esta sorriu por achar aquela fada tão peculiar.

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