sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Gotas

As gotas agarram-se ao vidro da janela e eu toco-as e sinto as suas vozes.
Quero que me contem uma história. Cada uma daquelas gotas.
Caminhos que já conhecem, sorrisos que já coleccionaram, rostos que já acariciaram, sussurros que já ouviram, lamentos que já reconfortaram.
Quero saber das histórias de pessoas que já foram vossas.
Caiem devagar pelo vidro e eu sigo-as com a ponta do dedo.
Não as deixo perderem-se na transparência da janela.
Vá!
Contem-me as histórias de quem já saboreou a vida e amou perdidamente.
Contem-me as histórias que ficaram flutuando na imortalidade.
Contem-me as vidas que eu vivi.
Digam-me... o que trazem dos céus.
Quero que me enfeiticem com o molhado que seca depressa em mim.
Continuam a cair e eu toco-as uma vez mais e deixo-me ir no seu encanto e descubro-te do outro lado da rua, numa janela igual, olhando para mim.
Não tocas nas gotas, mas elas fogem da tua janela e tocam a minha.
Contam-me a tua história.
Olá...
Estou a ouvir-te e não quero parar.
Mas de repente a chuva pára... e tu desapareces.
Quem eras tu?

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